Sobre a deturpação dos factos que infelizmente tiveram lugar através de artigos no jornal Público escritos pelo jornalista Ricardo Cabral Fernandes publicados no dia 21 de Junho de 2020.
Exmos. Senhores/ Exmas. Senhoras,
O Povo Ucraniano conseguiu defender a sua escolha civilizacional— viver num estado de Lei e de Democracia, mas pagou um preço demasiado alto, sacrificando as suas vidas, a sua saúde, et cetera. O Mundo conheceu ao longo dos tempos muitos genocídios. Na História recente temos o Holocausto e o genocídio do povo arménio em 1915, os ucranianos também sofreram um genocídio chamado Holodomor, as vítimas do qual estão entre os 7,5 milhões e 14 milhões, o que se pode apurar através de documentos.
A memória do genocídio obriga-nos agora a ter grande actividade social, maior actividade do que antes, e também exigir por parte do governo e dos políticos a observância da Constituição e da Lei. Os artigos acima mencionados do Senhor Ricardo Cabral Fernandes mostram uma abordagem falsa chauvinista preconceituosa contra o povo ucraniano. Num estado de direito, onde a Lei é inviolável, bem como os direitos humanos, esta abordagem é absolutamente injustificável e inaceitável.
Diz-se em um dos artigos, “A Ucrânia é hoje um dos principais pólos de atracção para a extrema-direita internacional e quase quatro mil estrangeiros de 35 países já receberam treino e combateram nas fileiras de milícias na Guerra Civil Ucraniana.” Como os Exmos. Senhores sabem, não existe “guerra civil” na Ucrânia, em virtude do facto que o povo ucraniano está a sofrer a agressão militar russa há seis anos. Através de uma grande quantidade de evidências verificadas não só por parte da Ucrânia mas também por parte da comunidade internacional, incluindo imagens de satélite da OTAN, pode-se concluir que 7% do território ucraniano está ocupado pelas Forças Armadas da Federação Russa.
A título de exemplo, o relatório diário da Missão Especial de Monitorização da OSCE nº 134/2020, de 6 de Junho de 2020, informou que um veículo aéreo não tripulado de longo alcance registou um comboio de camiões que se dirigiam clandestinamente para a Ucrânia, na região de Luhansk, perto da fronteira com a Federação Russa, numa área não controlada pelo governo ucraniano, nem equipada com um sistema de controlo de acesso. A movimentação de camiões vindos da Rússia foi descrita escrupulosamente naquele relatório da OSCE. A geolocalização e as coordenadas exactas dos locais, em particular, por onde se verificou a invasão das colunas russas, bem como do ponto de chegada dos militares russos e do equipamento, foram indicadas e ficam na região de Luhansk.
Este é apenas um dos inúmeros exemplos diários que comprovam a constante interferência, por parte da Federação Russa, na soberania e integridade territorial da Ucrânia que se verifica desde 2014.
Tendo em conta que a Assembleia da República tem uma competência legislativa e política em geral, vimos por este meio pedir-lhes para prestarem a vossa atenção para o facto de que o povo ucraniano não é nazi. Na Ucrânia não há nazismo. Durante os longos anos de comunismo as instituições especializadas em propaganda criaram uma máquina de distorção de factos poderosa e desenvolvida para a guerra de informação. Nós compreendemos perfeitamente o efeito desta, como é que essa máquina funcionou e até continua a funcionar. As mentiras que se espalham para outras zonas do mundo, em todos os países, com extensão global.
Infelizmente, muitos políticos e funcionários públicos de alto nível, ainda são “agentes activos” da máquina que age contra a independência da Ucrânia. Portanto, nós, ucranianos que vivem em Portugal, consideramos que é nosso dever avaliar o facto ocorrido.
A guerra de informação torna os esforços dos ucranianos para convencer a sociedade portuguesa, mais difícil, no sentido de a mesma apoiar activamente a Ucrânia.
Esperamos que todos estejam atentos uma vez que a violação de direitos e da reputação dos ucranianos não é aceitável no âmbito da Lei portuguesa enquanto garante imprescindível de estabilidade e respeito pelas liberdades individuais, e, portanto, possuidora de inestimável valor para a comunidade.
Atenciosamente, Ucranianos Residentes em Portugal
22.06.2020
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