
Combatentes pró-russos em chapéus tradicionais de Kazakí de Kuban dentro do edifício da Administração Estatal Regional (Câmara Municipal) da cidade de Donetsk, Julho de 2014
De Oleksandr BEELOKOBYLSKY, Radio Svoboda.
Este artigo é sobre uma nova potencial ameaça da Rússia. Até agora, está em um estágio preliminar, mas o perigo pode ser mais próximo e mais real do que parece
A Federação Russa usou as unidades armadas chamadas de Kazakí* durante a anexação da Crimeia e invasão de parte das regiões de Donetsk e Luhansk. Agora, estruturas semelhantes estão a ser formadas ao longo da fronteira entre a Rússia e as regiões de Kharkiv, de Sumy e de Chernihiv da Ucrânia.
*Um termo histórico “os cossacos” (em ucraniano: коза́ки, kozа́ky) origina em um povo nativo das estepes das regiões da Ucrânia que, com tempo, se estabeleceram nas regiões do interior da Rússia asiática. No início, eram muito famosos pela sua intrepidez, coragem, não hesitando perante nenhum perigo, dignidade e capacidade militar bem como capacidade de auto suficiência.
No entanto, neste artigo, preferimos chamar os militantes russos de kazakí (em russo: казаки́, kazakí) que corresponde à pronúncia russa dessa palavra. Os cossacos ucranianos (ou melhor, kozа́ky, os cossacos) não têm nada a ver com esta história.
O FSB* enviou alguns “especialistas” para treinar esses Kazakí, e ensiná-los a cumprir diferentes tarefas com o objectivo de obter algumas posições oficiais em cidades ao longo da fronteira com a Ucrânia.
Esses especialistas recrutam Kazakí e preparam-nos para realizar tarefas militares especiais. Simultaneamente, formações paramilitares locais de Kazakí estão a ser incluídas nas tropas russas regulares localizadas perto da fronteira com a Ucrânia. Agora, membros dessas formações estão a participar regularmente nos exercícios regulares do exército russo. Isso significa que há uma oportunidade para as formações paramilitares sofrerem uma transformação de “fraternidades” voluntárias de Kazakí em unidades altamente capazes de combate moderno.
*FSB, Serviço Federal de Segurança da Rússia (em russo, ФСБ) é uma agência russa de serviços de informação que sucedeu ao KGB no que respeita a assuntos domésticos.
Além disso, no fim de 2019, a Rússia mudou a sua Lei em respeito aos Kazakí, tornando-os sujeitos a um controle estatal mais rigoroso. Pode-se concluir que, esses factos apontam para a intenção de usar os Kazakí para uma variedade de objectivos e, em particular, para possíveis missões especiais de combate contra a Ucrânia.
Eles planeiam reproduzir a experiência das forças de ocupação
No fim de 2019, fizeram-se muitas alterações na Lei da Federação Russa para melhorar a centralização das estruturas de Kazakí. Em Novembro de 2019, o presidente russo sancionou o Decreto nº 543, intitulado “Sobre a Comunidade de Kazakí em Toda a Rússia”, criando assim um escritório especial para gerir todas as unidades de Kazakí, com sede em Moscovo.
O presidente Putin também sancionou o decreto nº544, que faz de Nikolai Doluda, o chefe do escritório acima mencionado. Este homem foi nomeado vice-governador da região de Krasnodar na Rússia em 2006 e serviu também como Ataman (comandante militar) da força paramilitar de Kazakí da região de Kuban na Rússia desde 2007. Em 2014, Doluda participou na anexação ilegal da Crimeia took part in the annexation of Crimea pelas Forças Armadas Russas.
Há também um decreto presidencial nº 380, que aprovou a nova lista de membros de um Conselho Presidencial Especial de Assuntos de Kazakí. Governadores das regiões federais russas foram excluídos da lista. Isso também torna o controle de Kazakí mais centralizado.
Formações de Kazakí existem em toda a Federação Russa. Além das regiões onde Kazakí existiam historicamente (as regiões de Don, Kuban, Volga, Ural do Sul, Baikal e Extremo Oriente Russo), novas unidades paramilitares de Kazakí também apareceram na Região Económica Central da Terra Não-Negra e em outras áreas. Muitas delas começaram a ser formadas na década de 90, mas até agora tinham um papel meramente decorativo.
Kazakí da Federação Russa na península da Crimeia. Captura de tela
De todas essas formações, os Kazakí da região de Kuban e os do rio Don foram os mais bem organizados e bem treinados. Em 2014, a Rússia usou os Kazakí de Kuban para ocupar a Península da Crimeia da Ucrânia, e os Kazakí do Don nas operações militares russas em Donbass. De facto, as unidades de Kazakí do Don continuam a funcionar até agora como parte das forças policiais russas nos territórios ucranianos temporariamente ocupados, como parte da chamada “milícia do povo”.
De “decorações teatrais” a unidades de combate reais
Nikolai Doluda, acima mencionado, teve um grande papel na transformação da comunidade de Kazakí de Kuban, que mais se parecia com um “teatro etnográfico” passou a ser uma verdadeira força de combate. Agora, ele é o supervisor de toda a comunidade de Kazakí na Rússia.
Há muito tempo, os Kazakí foram tratados pela liderança da Federação Russa como a sua reserva regular das forças armadas. Em 2012, Nikolai Makarov, chefe do Estado-Maior da Rússia, disse ao jornal “Izvestia” told : “Estamos a formar tropas de Kazakí. Cada distrito militar terá pelo menos uma brigada de Kazakí”. O processo é lento, mas continua nos dias de hoje. Várias unidades e formações das Forças Armadas russas têm a palavra “Kazak” em seus títulos oficiais, mas a criação de unidades inteiramente compostas por Kazakí é algo que começou recentemente.
Ataman (comandante militar) Nikolai Doluda
O mecanismo de recrutamento de reservistas recruiting the reservists é elaborado na região de Don, na Rússia, desde 2016. Cada companhia reservista de Kazakí apresenta-se para exercícios na base militar da Décima Primeira Brigada Especial de Engenharia das Forças Armadas russas, localizada perto da fronteira com a Ucrânia located near the border with Ukraine, na cidade de Kamensk-Shakhtinskiy. Os exercícios duram 2 a 3 dias por mês e por três semanas uma vez por ano. As unidades foram feitas com o objectivo de participar em exercícios militares em larga escala, tais como Zapad-2017, Vostok-2018, Centr-2019 e outros.
A primeira unidade de Kazakí onde os recrutas começaram a servir como soldados regulares do exército, foi formada was formed em 2018 no Distrito Militar Ocidental da Rússia, na região de Belgorod. Faz parte do regimento de infantaria motorizada Petrokuvsky. Este regimento está localizado na cidade de Valuyki e na vila de Solot.
É interessante que várias regiões federais russas falem sobre planos para recrutar Kazakí para as Forças Armadas da Rússia. Assim, uma conta da rede social Telegram, @UkraineHack publicou, há alguns dias, um “Plano do Distrito Militar Central”, onde foi mencionado como os reservistas de Kazakí serão recrutados para o serviço em regime de contracto para servirem nas unidades do exército russo regular.
https://t.me/UkraineHack/402
Quem é responsável de activar a força russa de Kazakí ao longo da fronteira ucraniana?
O serviço de segurança russo, FSB, e uma de suas unidades, o Serviço Federal de Controle de Fronteiras, desempenham um papel importante na preparação das formações de Kazakí para missões de combate. É curioso que, desde Agosto de 2018, o Serviço regional de fronteiras das regiões de Belgorod e de Voronezh seja chefiado por Dmitriy Prokopov, uma pessoa com experiência em trabalhar com a comunidade de Kazakí de Kuban. Até 2012, ele foi o chefe do Serviço regional de fronteiras da cidade de Timoshevsk, dentro da jurisdição da Guarda Costeira do FSB no Mar Negro e Mar de Azov.
A transferência de Prokopov para outras regiões coincide com o aumento do recrutamento de Kazakí pelo governo russo com o objectivo de cumprir determinadas tarefas, incluindo o controle de fronteiras.
Em 2014, Dmitriy Prokopov foi o Primeiro Vice-Chefe do Escritório da Patrulha de Fronteiras do FSB na região de Astrakhan e na República Autónoma da Calmúquia. Foi exactamente o momento em que a legislação regional regional legislation about the Kazak sobre a formação de unidades de Kazakí e o respectivo auxílio federal respective federal aid foram adoptados. O trabalho de Prokopov resultou no estabelecimento da formação de patrulha de fronteiras Kazakí, que começou a servir em Março de 2017. Embora o coronel Prokopov já tivesse sido transferido para outra jurisdição do FSB, foi o seu trabalho que facilitou a formação dessa unidade. Agora, o número de pessoas que servem nessa formação, continua a crescer, e a frequência com que esta realiza os raides da patrulha de fronteiras, está a aumentar.
O destino seguinte de Prokopov foi a ilha de Sakhalin. Como director adjunto do departamento de Patrulha de Fronteira do FSB da ilha. No segundo semestre de 2016, ficou responsável pela transição do primeiro grupo paramilitar de Kazakí em uma unidade regular de patrulha de fronteira. Prokopov também iniciou a criação de uma nova formação de Kazakí.
Em Agosto de 2018, Dmitriy Prokopov foi nomeado chefe do Departamento Regional de Patrulha Fronteiriça de Belgorod e Voronezh do FSB. Em Março de 2019, a Duma (parlamento russo) da região de Voronezh adoptou a Lei sobre “incentivar voluntários a patrulhar as fronteiras [russas]. Por “voluntários” entenda-se as formações Kazak formations de Kazakí. Uma campanha semelhante começou na região de Belgorod in the Belgorod Oblast.
Simultaneamente, outros indivíduos do sul da Rússia também foram designados para posições operacionais nessas regiões. Por exemplo, o coronel Denis Pospelov, que havia servido na cidade de Taganrog, foi nomeado comandante-chefe the Chief Commandant of the city of Oktyabrskoye of the Belgorod Oblast da cidade de Oktyabrskoye da região de Belgorod. Sabe-se também que o seu vice-comandante, Denis Kalmykov, costumava ser used to be o comandante-chefe da cidade de Novoshakhtinsk, sob os auspícios do Departamento Regional de Patrulha de Fronteiras do FSB, na região de Rostov. Estes são apenas alguns exemplos que refletem uma tendência mais ampla.
Tradução: Helena Sofia da Costa.
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