Os voluntários da InformNapalm comunidade internacional de informação OSINT InformNapalm prepararam uma análise dos factos que dificultam as actividades da Missão Especial de Monitorização da OSCE na região de Donbass e os sinais de agressão contra os observadores internacionais no primeiro trimestre de 2020. Esta análise contém dados estatísticos, gráficos e mapas que podem ser úteis a diplomatas, políticos, militares, jornalistas, especialistas bem como a qualquer pessoa que os possa usar na sua actividade com o objetivo de aplicar pressão diplomática ou económica ao estado agressor, a Federação Russa.
A 19 de março, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia anunciou na sua página oficial do Facebook Facebook, que o mandato da Missão Especial de Monitorização da OSCE foi prolongado por mais 12 meses até 31 de Março de 2021. Os Estados participantes da OSCE também concordaram em aumentar significativamente o orçamento da missão da OSCE para fortalecer suas capacidades de monitorização.
“Devido a essa decisão, a Missão poderá continuar a informar a comunidade internacional de factos que confirmam a presença militar da Federação Russa nos territórios temporariamente ocupados das regiões de Donetsk e Luhansk, na Ucrânia”, diz-se no relatório.
Os relatórios da OSCE contêm dados únicos, exclusivos, indicando os nomes dos modernos equipamentos russos que poderiam ter chegado a Donbass apenas da Federação Russa, e que só militares russos podem controlar. Os voluntários da comunidade internacional de informação OSINT InformNapalm continuam a usar esses dados, além disso, adicionam suas próprias investigações através da OSINT.
Na nossa opinião, o instrumento mais eficaz para fornecer dados sobre equipamentos militares russos é o veículo aéreo não tripulado à Missão Especial de Monitorização da OSCE enquanto que as patrulhas, por sua vez, permanecem quase completamente isoladas e não são capazes de controlar nem monitorizar objectos no território ocupado.
Para ilustrar essa situação, os voluntários da InformNapalm fornecem todos os dados sobre a obstáculos para actividade da Missão da OSCE em Donbass, de Janeiro a Março de 2020, inclusivamente.
Obstáculos a Missão da OSCE e ameaças aos observadores
As tropas de ocupação russas e os seus aliados impedem o trabalho da Missão Especial de Monitorização da OSCE e não permitem o acesso de observadores da missão a determinadas áreas e equipamentos militares. Por sua vez, no território controlado pelas tropas ucranianas, a Missão da OSCE circula livremente. Esse é um dos factores que cria um certo desequilíbrio nos relatórios. Mais um factor significativo é que a Missão tem muitos cidadãos russos entre os observadores, cerca de 40 pessoas, as quais podem ser agentes de influência da Federação Russa.
Esses sinais de guerra híbrida devem ser levadas em conta para aumentar a eficácia da Missão: proibir os cidadãos da Federação Russa, país agressor, fazer parte da observação da OSCE, bem como aumentar a pressão internacional sobre a Federação Russa para acesso sem impedimentos de observadores internacionais às áreas de monitorização.
No relatório diário da Missão Especial de Monitorização da OSCE na Ucrânia nº 65/2020, de 18 de Março de 2020, apareceu uma secção nova dedicada a sinais de agressão contra membros da Missão por membros armados de grupos armados controlados pela Federação Russa.
O primeiro caso ocorreu na vila de Sofiyivka, perto da cidade de Ienakiieve temporariamente ocupada
” Em Sofiyivka (anteriormente Karlo-Marxovo; não controlada pelo governo Ucraniano, 40 km a nordeste de Donetsk) dois membros das forças armadas dos ocupantes de arma na mão atacaram a patrulha da Missão composta por 2 veículos e 5 oficiais, funcionários da Missão.
Um dos membros dos grupos armados (que estava claramente embriagado ) disse, de maneira agressiva, aos membros da patrulha da Missão para abrir a porta do primeiro carro do lado do motorista, o que os observadores fizeram.
A seguir, esse membro dos grupos armados apontou a sua espingarda de assalto aos membros da patrulha da Missão, de seguida, abriu a porta traseira do carro no lado esquerdo, exigindo que os membros da patrulha saíssem do carro e abrissem o porta-bagagens.
Depois de um membro dos grupos armados se afastar do carro para usar um walkie-talkie, os observadores fecharam e bloquearam todas as portas do carro. O mesmo membro do grupo armado tentou abrir as portas do carro e gritou agressivamente. Após cerca dos 8 minutos, os bandidos permitiram que a patrulha continuasse o seu caminho. “
O segundo incidente ocorreu perto da zona chamada de “zona de separação de tropas nº 3” no caminho da patrulha da Missão para a vila de Petrivske temporariamente ocupada.
“Enquanto estava na estrada cerca de 1 km ao norte de Petrivske, a equipa da Missão ouviu um som avaliado como o de um motor de veículo aéreo não tripulado a uma distância de cerca de 400 m – 1 km a nordeste da sua localização.
Após cerca de 2 minutos, os observadores viram como um objecto não identificado, preso a um pára-quedas branco ou cinza claro, aterrava cerca de 400 m para nordeste.
50 minutos mais tarde, a equipa movimentou-se a 1,5 km para o norte-nordeste, onde viu um veículo aéreo não tripulado preto (com uma asa deltóide, com mais de 1 m de largura), que voou a uma distância de 200 a 300 m para o sudeste.
Observadores internacionais também registaram o movimento de um objecto não identificado (aproximadamente 1 m de comprimento) preso a um pára-quedas branco / cinza que se aterrou cerca de 400 m a sudeste da patrulha. A equipe da Missão partiu e deixou a área ”
A propaganda russa no território temporariamente ocupado da Ucrânia espalha informação falsa sobre o COVID-19.
O aumento dos casos de agressão contra os observadores da OSCE pode muito bem ser não apenas o resultado de instruções da liderança russa para impedir o acesso a certos áreas e equipamentos, mas também o resultado de pânico dos militantes devido à infecção por coronavírus.
Esse pânico é deliberadamente alimentado por canais de propaganda russa na região ocupada, indicando a suposta ameaça de disseminação de infecções por coronavírus COVID-19 “no território chamado de “DNR” (A República Popular de Donetsk) perpetrada por representantes da OSCE. O principal objectivo dessas acções é complicar ainda mais o movimento da Missão durante a monitorização da situação de segurança.
(Assista ao vídeo do programa “Defesa Civil – divulgação de 17/03/2020” às 36:50)
Obstáculos regulares feitos pelos ocupantes para restringir as actividades da Missão Especial de Monitorização da OSCE no sul da região de Donetsk
Há algum tempo nota-se a tendência de aumentar a obstrução das actividades da Missão no sul pelas forças de ocupação russas.
Desde o início de 2020, a Missão não conseguiu monitorizar regularmente e na íntegra, como deve ser, a situação de segurança nos distritos da região de Donetsk até a costa do Mar de Azov, incluindo as áreas de fronteira com a Federação Russa, devido à obstrução das patrulhas da OSCE feita por representantes de grupos armados controlados pela Federação Russa, bem como por restrições na implementação da vigilância aérea devido a equipamentos de guerra electrónica russa no Donbass.
O acesso não é possível ou interdito em, pelo menos, 27 cidades, vilas e aldeias temporariamente ocupadas no sul da região.
E, dado que a obstrução ocorre nos postos de controle dos militantes localizados nas estradas principais, não há acesso a toda a linha de contacto da parte não controlada do sul da região de Donetsk.
A missão da OSCE não tem acesso à área da vila de Hnutove, que é vista como um novo potencial local para a separação de forças e activos militares em Donbass.
Assim, as forças de ocupação russas realmente bloqueiam a passagem da Missão diariamente na direcção do posto de controle da população local, que é enviado ao posto de controle de Hnutove
Em Janeiro de 2020 no posto de controlo a oeste de Verkhnoshyrokivske (zona nao controlada, 85 quilómetros a sul de Donetsk (anteriormente, Oktiabr) a patrulha da OSCE foi detida 11 vezes de 20 minutos a 2 horas. Para além disso, combatentes russos não permitiram à Missão entrar na zona 13 vezes dizendo que “nesta área continua-se a verificar um complexo de eventos especiais” ou “que está em condução uma operação especial”, ou “que se estão a realizar trabalhos de remoção de minas”.
Enquanto outros veículos, incluindo civis e os das forças ocupantes, movimentaram-se nos dois sentidos passando o posto de controlo sem restrições.
Em Fevereiro, no mesmo posto de controlo, combatentes russos não permitiram aos observadores da OSCE entrar na zona pela 21ª vez. Enquanto a patrulha foi detida 3 vezes por uma duração mais longa do que antes.
Em Março, verificou-se a mesma situação 6 vezes mas aumentou-se quantidade de obstáculos a veículos aéreos não tripulados. Obviamente, os observadores da OSCE tentam a monitorizar toda a situação nessa área a partir do ar.
Em Março, o sinal GPS de veículos aéreos não tripulados da Missão da OSCE de curto e médio alcance foi bloqueado pelo menos 16 vezes como resultado de uso pelas forças russas de sistemas de guerra electrónica. Por 4 vezes mercenários russos abriram fogo usando armas de fogo.
Dados estatísticos sobre o bloqueamento da actividade da OSCE pelas forças de ocupação russas no primeiro trimestre de 2020
É importante lembrar que numa reunião do Grupo de Contacto Trilateral sobre a Ucrânia em Minsk, a 12 de Fevereiro de 2020, os participantes quase concordaram em criar uma nova secção para a separação de forças e activos militares em Donbass que devia ser Hnutove. Após a reunião, o secretário de imprensa do chefe da delegação ucraniana, Darka Olifer, disse: “O lado ucraniano insiste em garantir a segurança total do trabalho dos funcionários da missão, e a Missão Especial de Monitorização da OSCE deve ter acesso sem impedimentos a todo o território da Ucrânia, conforme previsto no seu mandato.”
A partir dos relatórios da Missão Especial da OSCE, é óbvio que é exactamente a área de Hnutove e as áreas adjacentes a ela, controladas pela administração russa de ocupação, onde não se permite, conforme devia ser, a admissão de observadores a essa mesma área para a monitorização da situação bem como detectar a presença militar de grupos armados.
Situação na zona chamada de “zona de separação de tropas nº 3”
Em Janeiro de 2020 a patrulha da OSCE foi bloqueada 16 vezes durante 8 dias, o acesso das patrulhas da Missão OSCE à vila de Petrivske, controlada pelas forças de ocupação russas, foi interdito. O circuito fechado ou circuito interno de televisão da Missão da OSCE, situado no limite da zona na posição diante (posição-espelho) do mesmo circuito das forças ucranianas na zona controlada pelo governo ucraniano, também foi bloqueado pelas forças russas. Também em Janeiro de 2020, tropas de ocupação usaram os mais recentes sistemas russos de guerra electrónica para bloquear o trabalho de veículos aéreos não tripulados da Missão da OSCE de curto e médio alcance pelo menos 16 vezes.
Em Petrivske há só um circuito interno de televisão da Missão da OSCE a sul dessa zona, temporariamente não controlada, enquanto na região controlada pelas tropas ucranianas há nove (em Márinka, Berezove, Bohdanivka, Granitne, Chermalyk, Pishchevik, Hnutove, Shyrokyne).
Situação na cidade de Donetsk ocupada pelos forças russas
Em Março de 2020, começaram a interferências regulares no acesso da patrulha da OSCE ao ponto de observação permanente da Missão da OSCE na estação ferroviária central de Donetsk temporariamente ocupada. Pessoas pertencentes aos grupos armados proibiram o acesso à patrulha pelo menos oito vezes desde o início de Março.
Entre os motivos citados pelos militantes, os observadores internacionais indicaram nos seus relatórios “ordens dos comandantes” e a recusa dos observadores em apagar as fotografias tiradas durante a sua visita anterior.
“Um membro de grupos armados negou acesso à patrulha da Missão ao posto de observação, que os observadores costumam usar, nomeadamente, o telhado da estação ferroviária central de Donetsk (6 km a sudoeste do centro da cidade), dizendo que os observadores se recusaram a remover fotografias tiradas por eles durante a sua visita anterior ”, – relatório da Missão Especial de Monitorização da OSCE n ° 56/2020, de 7 de Março de 2020.
Conclusões
- Depois de analisar os relatórios do OSCE SMM para o primeiro trimestre de 2020, pode-se concluir que o monitorização completa da situação de segurança é realizada pela Missão da OSCE exclusivamente na zona controlada pelas tropas ucranianas, enquanto a área controlada pelas forças de ocupação russas é praticamente “terra incógnita” para a OSCE.
- O lado ucraniano contribui para o trabalho da Missão, ao contrário das forças de ocupação russas. Durante 2020, as patrulhas da OSCE não tiveram um acesso limitado a áreas povoadas que ficam na zona controlada pelas tropas governamentais ucranianas.
- Devido a este desequilíbrio no acesso às instalações, a Missão da OSCE nos seus relatórios, a secção sobre presença militar na zona de segurança reflecte principalmente informações sobre equipamentos e pessoal em áreas controladas pela Ucrânia (além disso, diz-se que tropas ucranianas usam equipamentos que não são proibidos pelos protocolos de Minsk), enquanto as informações sobre a presença militar das forças de ocupação russas no território temporariamente ocupado de Ucrânia aparecem nos relatórios raramente, de maneira esporádica.
- Isso cria um desequilíbrio no campo da informação, que, por sua vez, é usado por propagandistas pró-russos por meio de recursos dos media controlados pela Federação Russa para desacreditar as acções da liderança militar ucraniana. Além disso, esse desequilíbrio é usado pela Federação Russa como alavanca de propaganda nas negociações no Grupo de Contacto Trilateral sobre a Ucrânia em Minsk.
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Tradução: Helena Sofia da Costa.
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