A 6 de Janeiro, aviões de transporte militar russos transportaram de avião para o Cazaquistão militares das forças especiais aerotransportadas das Forças Armadas russas, que participaram na operação de captura da Crimeia e na agressão contra a Ucrânia. A previsão é de que na fase inicial da transferência cerca de 200 militares russos regulares cheguem ao Cazaquistão, além disso, também se prevê que outras forças híbridas da Federação Russa sejam transferidas para o país. Leia mais na publicação da Comunidade Internacional Voluntária de informação InformNapalm.
Decisão da OTSC como “cobertura oficial”
*Nota do tradutor:
OTSC e A Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC; em russo: ОДКБ – Организация Договора о Коллективной Безопасности), também conhecida como Organização do Tratado de Cooperação e Segurança ou simplesmente Tratado de Tashkent (em russo: Ташкентский договор), é uma aliança militar intergovernamental assinada em 15 de maio de 1992. Em 7 de outubro de 2002, os presidentes da Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tadjiquistão assinaram uma ratificação em Tashkent, fundando oficialmente a OTSC. Na ocasião, Nikolai Bordyuja foi nomeado secretário-geral da nova organização.
De acordo com a decisão do Conselho de Segurança Coletiva da OTSC adoptada a 6 de Janeiro de 2022, “forças de manutenção da paz” foram enviadas para a República do Cazaquistão, cuja base é composta por unidades da Federação Russa.
Segundo dados preliminares, divulgados pelo portal Avia.pro, as Forças Armadas russas podem estar envolvidas em operações de limpeza nas cidades mais rebeldes do Cazaquistão. E depois disso, estes serão enviados para objectivos estrategicamente importantes para a Federação Russa, nomeadamente, o campo de testes de defesa antimísseis, o cosmódromo de Baikonur e outros.
Anteriormente, meios de comunicação informaram que a Federação Russa está a enviar militares da 45ª Brigada Separada para fins especiais das Forças Aerotransportadas, da 98ª Divisão Aerotransportada e, igualmente tropas do Centro de Forças Especiais Senezh da Federação Russa para o Cazaquistão.
De acordo com investigações da Comunidade Internacional Voluntária de informação InformNapalm, todas essas unidades da Federação Russa participaram na agressão contra a Ucrânia não só durante a operação de apreensão e ocupação da Crimeia, mas também nas hostilidades em Donbas.
- 98ª Divisão Aerotransportada (unidade militar 65451). Em relação à presença desta divisão na Ucrânia, foram identificados soldados do 217º regimento de pára-quedistas (unidade militar 62295) e do 331º regimento aerotransportado (unidade militar 71211).
- 45ª Brigada de Forças Especiais Separada da Ordem de Kutuzov e Alexander Nevsky (unidade militar 28337). Curiosamente, em 2014, o 45º regimento separado das Forças Aerotransportadas foi transformado numa brigada com o objectivo de um aumento geral no número de tropas aerotransportadas da Federação Russa.
Vale ressaltar que em 2001, oficiais do 45º Regimento Aerotransportado, entre os quais Igor Girkin (Strelkov), famoso pelos acontecimentos em Donbas, realizaram uma série de sequestros de residentes locais das aldeias chechenas de Khatuni, Makhkety e Tevzeni. Das dezenas de casos, quatro foram bem investigados e as pessoas sequestradas continuam desaparecidas.
“Pacificadores” do país agressor
É um facto interessante que a Federação Russa esteja a usar activamente militares das unidades que participaram na agressão híbrida contra a Ucrânia para realizar “tarefas de manutenção da paz” e exercícios internacionais no exterior. Assim, a 10 de Novembro de 2020, a Rússia transferiu os militares da 15ª Brigada de Infantaria Motorizada (unidade militar 90600, em Inglês: Motorized Rifle Brigade, MRB) estacionada na cidade de Roshchinskiy, Oblast de Samara, para Nagorno-Karabakh. Nos últimos anos a InformNapalm tem detectado repetidamente que os militares regulares desta Brigada têm sido participantes diretos nas hostilidades em Donbas. Também há evidência da participação de militares da 15ª Brigada na operação de apreensão da Crimeia.
Além disso, em 2021, a Federação Russa transferiu paraquedistas da 76ª Divisão de Assalto Aerotransportado das Forças Armadas Russas (unidade militar 07264) para a Belarus para um treino repentino localizado perto das fronteiras da Lituânia e da Polónia. O banco de dados OSINT da Comunidade Internacional InformNapalm recolheu numerosos dados com provas da participação de militares da 76ª Divisão de Assalto Aerotransportado na agressão contra a Geórgia, na operação para tomar a Crimeia ucraniana e nas hostilidades no leste da Ucrânia. Em particular, está igualmente documentado que as plataformas de perfuração de «Черноморнефтегаз» (Chernomorneftegaz) em 2014 foram capturadas por paraquedistas do 104º Regimento Aerotransportado das 76ª Divisão de Forças Aerotransportadas da Rússia.
Divisões híbridas russas para tarefas delicadas
Também é possível que o Kremlin, no contexto da crescente atenção da comunidade mundial aos eventos no Cazaquistão, não se atreva a usar militares russos abertamente para matar e sequestrar manifestantes no Cazaquistão, mas usa unidades híbridas para esses fins. A 5 de Janeiro, foram recebidos relatórios sobre a identificação de aeronaves de transporte militar que chegaram ao Cazaquistão da Federação Russa.
Naquele momento, ainda não havia uma decisão da OTSC e nenhuma transferência de forças tinha sido anunciada publicamente. Houve sugestões de especialistas militares de que essas aeronaves poderiam ter transferido mercenários do Grupo russo Wagner, uma organização paramilitar privada, que não apenas participaram nas hostilidades contra a Ucrânia, mas também lutaram pelos interesses do Kremlin na Síria, Líbia, Moçambique e Sudão e outros países.
O uso de mercenários russos, afiliados às forças especiais das Forças Armadas Russas e aos serviços especiais russos, até agora permite ao Kremlin evitar a responsabilidade directa por crimes de guerra em outros países, ocultar perdas e resolver outras tarefas delicadas, como assistência militar aos ditadores cujos regimes estão a pedir a ajuda de Moscovo ou seja, o Kremlin prefere fazer todo o trabalho sujo com as mãos de mercenários, deixando às unidades de quadros o papel de vitrines de manutenção da paz.
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