Esta monitorização das redes sociais e investigação OSINT das pessoas envolvidas na operação especial russa com o nome de código “gravações de Derkach” foi preparada por Mark Savchuk, presidente do Conselho de Controle Público da Agência Nacional Anticorrupção (NABU), membro da ONG anti-corrupção “Machado Democrático” (em Ucraniano: “GO Democratychna Sokyra”)  e pelo o porta-voz da InformNapalm, comunidade internacional voluntária de informação OSINT Mykhailo Makaruk.

A 11 de Janeiro de 2021, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções a vários políticos e funcionários ucranianos por interferirem nas eleições presidenciais dos EUA e por espalharem desinformação. A decisão dizia respeito às pessoas envolvidas na publicação, legitimação e distribuição das chamadas “gravações de Derkach”, nas quais supostamente Joe Biden e Petro Poroshenko discutiram uma série de questões da política ucraniana e levantaram o assunto da companhia Burisma. Membros do Parlamento ucraniano Andriy Derkach e Olexandr Dubinsky, ex-deputado Olexandr Onishchenko, ex-procurador Kostiantyn Kulik e o ex-funcionário da Embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia Andriy Telizhenko, bem como vários gestores de comunicação de Andriy Derkach foram sancionados por participarem nessa operação especial.

Em Agosto de 2020, a InformNapalm publicou uma investigação que listava provas de que as “gravações de Derkach” eram uma operação especial russa para interferir nas eleições presidenciais de 2020 nos EUA.

Vários indivíduos participaram nesta campanha de desinformação. Era um grupo organizado de apresentadores de televisão pró-russos, importantes bloggers, políticos e proprietários de activos de comunicação e media, cidadãos ucranianos, que agiam efectivamente no interesse da Rússia. As suas acções combinadas para divulgar, legitimar e promover as “gravações de Derkach” na televisão no horário nobre constituíram uma operação especial na esfera das comunicações sociais. Além disso, as suas declarações adicionais em apoio a Trump ao declarar a contagem de votos nas eleições dos EUA como desonesta e falsa ressaltaram a sua actividade de desinformação sistémica e o seu verdadeiro objectivo de destabilizar a situação nos Estados Unidos, que já custou a vida de vários cidadãos.

A campanha foi claramente direcionada para dois públicos-alvo principais. O primeiro foi o governo ucraniano, que foi directamente chamado a iniciar uma investigação sobre as chamadas “gravações Biden”. Uma investigação desse tipo poderia ter afectado a classificação de um dos candidatos presidenciais dos EUA nas eleições de 2020. O segundo público-alvo foram os cidadãos norte-americanos que deveriam ter recebido mensagens negativas sobre o candidato em questão e desta maneira o mesmo não teria tido maior expressão nas intenções de voto. 

Publicamos aqui uma lista indicativa dos principais indivíduos envolvidos no esforço conjunto para legitimar e espalhar as “gravações de Derkach”, que ainda não foram alvo de sanções dos EUA:

1. Anatoly Shariy, um político pró-russo e top-blogger do YouTube, um convidado frequente em canais pró-russos, a maioria dos quais agora estão sob sanções na Ucrânia, junto com a sua esposa Olha Shariy, também uma blogger popular no YouTube, que participou activamente no esquema de legitimação das “gravações de Derkach” e na entrega do conteúdo relevante aos públicos-alvo nos EUA.
2. Taras Kozak, membro do Parlamento ucraniano, proprietário indicado dos bens de Viktor Medvedchuk (já sob sanções dos EUA) e proprietário indicado de três canais de televisão  pró-russos na Ucrânia. Em Fevereiro de 2021, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, agindo por decisão do Conselho de Defesa e Segurança da Ucrânia, decretou sanções pessoais contra Kozak e contra os canais pertencentes a este. Esses canais foram usados activamente para divulgar e legitimar as histórias sobre as “gravações de Derkach”.
3. Oksana Marchenko, esposa de Viktor Medvedchuk, um político pró-russo (cunhado de Putin, já sob sanções dos EUA), proprietária indicativa duma parte significativa dos activos de Medvechuk, incluindo média.
4. Andriy Portnov, ex-Primeiro Vice-Chefe da Administração Presidencial de Viktor Yanukovych, um dos principais lobistas que actua contra o desenvolvimento da infraestrutura anticorrupção na Ucrânia. Portnov é um orador frequente duma série de canais pró-russos, a maioria dos quais estão agora sob sanções na Ucrânia. É também o arquitecto do algoritmo jurídico das “gravações de Derkach”.
5. Ihor Kolomoisky, oligarca ucraniano que comprou vários activos nos Estados Unidos para lavar o dinheiro retirado da Ucrânia. Kolomoisky é proprietário beneficiário do canal “1 + 1” (uma participação minoritária neste canal é detida pelo acima mencionado Viktor Medvedchuk), tem influência direta em Olexandr Dubinsky (já sob as sanções dos EUA).
6. Nazar Diorditsa, pivot  de vários canais pró-russos na Ucrânia, participou activamente no esquema de legitimação das “gravações de Derkach”.

As informações apresentadas a seguir confirmam a participação de cada uma das pessoas acima referidas na campanha de desinformação das “gravações de Derkach”, demonstram a ligação entre estes, bem como a natureza coordenada das suas acções.

Anatoly Shariy

Blogger pró-russo (a sua conta principal tem 2,4 milhões de subscrições no YouTube), orador frequente nos canais pró-russos mencionados. Vive em Espanha

Foi um dos principais oradores sobre o tema das “gravações de Derkach”, promovendo sistematicamente a sua autenticidade. É listado em primeiro lugar, já que o seu conteúdo no YouTube é transmitido para falantes de língua russa nos Estados Unidos, enquanto que o seu canal no YouTube está registado nos Países Baixos. Assim, ao contrário da maioria dos outros indivíduos da lista, este agiu para influenciar directamente as eleições nos Estados Unidos.

Shariy está consistentemente no TOP-5 do segmento de língua russa do YouTube, também é o único blogger político que está constantemente presente no TOP-20 do segmento de língua russa do YouTube.

Assim, a sua influência estende-se não apenas à Ucrânia, onde Shariy se envolve em actividades políticas, mas também à Federação Russa e às diásporas de língua russa, que ainda não se integraram aos ambientes linguísticos locais em vários países, incluindo os Estados Unidos.

Uma análise de conteúdo do canal de Shariy no YouTube mostra claramente que este teve um interesse activo no caso Burisma antes mesmo da publicação das “gravações de Derkach”. Assim, em Dezembro de 2019, Shariy lançou um resumo em vídeo https://www.youtube.com/watch?v=7OGbl7ZFPdg com segmentos das histórias do canal One America News, onde o blogger se concentrou em proteger Paul Manafort e em atitude negativa sobre a situação com o Burisma. Aparentemente, pode-se concluir que Shariy ampliou o assunto com o seu vídeo, pois recebeu cerca de 600.000 visualizações, enquanto histórias semelhantes no One America News tiveram uma média de 150-180.000 visualizações.

Após a publicação das “gravações de Derkach”, Shariy foi o primeiro a dizer que a voz nas “gravações de Derkach” (uma citação:) “inequivocamente pertence a Petro Poroshenko”.

O que ouvimos aqui é terrível. Um pesadelo. Este é o controle externo completo do país. Ouvimos coisas que se enquadram na definição de alta traição. … É claro que lá ouvimos vozes… sim, devemos dizer ‘…as vozes são parecidas…’. Mas entendemos que este é Poroshenko. Estas não são gravações de palhaço de alguns oligarcas em fuga … Essas gravações são reais  … amanhã saberemos a reação dos Estados Unidos da América. Trump definitivamente ficará viciado nesses registos. Porque isso pode ser um golpe não só para Poroshenko, … mas também para Biden. Quando ouvimos Joseph Biden, um cidadão dos Estados Unidos da América, dar uma ordem clara ao Presidente Poroshenko para remover o Procurador-Geral … só porque este último  estava a investigar o caso Burisma e o filho de Joe Biden estava envolvido, isso é traição. ” https://youtu.be/0Dancl3NEWo

Shariy promoveu as “gravações de Biden” não apenas nos canais em que participou como especialista convidado, mas também no seu canal pessoal no YouTube.

2.10: Shokin, sendo o procurador-geral da Ucrânia, não cometeu nada ilegal, mas por acordo com Biden, foi despedido. Porquê? Porque Shokin estava a  investigar a Burisma, a empresa onde  o filho de Biden trabalhou. Esta foi sua única falha.

6.18: A quais “consequências” do trabalho de Shokin Biden se refere ao dizer que elas precisam de ser eliminadas? Claro, para a investigação Burisma. Tudo deve ser parado, o filho de Biden deve estar limpo. https://www.youtube.com/watch?v=HAtaKsbBQcE

Shariy também promoveu activamente o lançamento da segunda parte das “gravações de Derkach” em Junho. Eis uma citação do seu vídeo onde se menciona o ex-primeiro-ministro Arseniy Yatsenyuk:

“O que está a acontecer nesta gravação? O vice-presidente liga para o presidente e diz que as agências de cumprimento da lei (sobre as quais o presidente supostamente não tem influência) não deveriam perseguir Yatsenyuk. E que antes Yatsenyuk dirigiu-se ao vice-presidente dos Estados Unidos da América e disse: ‘Bem, estou a terminar todos os assuntos, mas se eles começarem a perseguir-me?’ E o outro (Biden) diz : ‘Não, eles não vão, e ninguém está interessado. Mas talvez haja algo? Talvez existam alguns motivos válidos?”‘Https://www.youtube.com/watch?v=loqD1FDJgcQ

Depois da votação nas eleições presidenciais nos Estados Unidos, a 8 de Novembro, Shariy gravou outro videoblog, onde afirmou directamente que as eleições foram fraudulentas em favor de Biden. Shariy promoveu um vídeo sobre “eleições americanas fraudulentas”.

“Na minha opinião, as eleições são fraudulentas. Já publiquei esses vídeos com falsificações, que depois se tornaram um assunto de discussão. … Devo dizer, com certo orgulho, que os advogados que trabalham connosco no âmbito de alguns processos judiciais, são os mesmos que representam a empresa que já tinha realizado recontagens em alguns estados. E nos estados onde Biden venceu mas onde a recontagem foi realizada,  de repente descobriu-se que Trump tinha uma vantagem. A minha opinião é que essas eleições foram definitivamente desonestas ”, diz Shariy.  https://youtu.be/j5AjoC2w0sM

Isso revela um envolvimento ainda mais profundo de Shariy  nas eleições dos EUA do que o porta-voz usual da propaganda russa poderia ter. Anatoly Shariy não apenas disseminou sistemática e persistente desinformação que poderia ter influenciado o resultado da eleição presidencial dos Estados Unidos. Este também, seguindo a sua própria admissão, coordenou as suas acções a actividades com algumas pessoas desconhecidas nos Estados Unidos. Isso pode ser confirmado, em particular, através do seu primeiro vídeo sobre Burisma, lançado um ano antes das eleições, neste Shariy transmite mensagens do canal marginal, One America News. Nenhuma pessoa fora dos Estados Unidos poderia ter fornecido ao blogger um conteúdo tão profundamente doméstico para um  “processamento criativo”.

As ligações e relações amigáveis de Shariy com os indivíduos mencionados abaixo serão refletidas nas seções relevantes que se seguem. No entanto, será apropriado salientar que Shariy e Derkach (já sob as sanções dos EUA) têm pelo menos uma ligação que os liga pessoalmente. A filha mais velha de Derkach, Tetiana Terekhova e Olha Shariy (Bondarenko) são amigas há cerca de dez anos e ainda mantém uma comunicação amigável nas redes sociais. https://archive.is/4624y

Olexandr Dubinsky (já sob as sanções dos EUA) também disse que apoiava Shariy. A 2 de Maio de 2020, Dubinsky disse ao canal ucraniano NewsOne que se teria juntado ao partido de Shariy, se não fosse membro do partido chamado “Servo do Povo”. https://www.youtube.com/watch?v=t588f54atT8

Taras Kozak

Membro do Parlamento ucraniano, proprietário nomeado dos bens de Viktor Medvedchuk (já sujeito às sanções dos EUA). Também é o proprietário indicado de três canais pró-Rússia que estavam activamente a divulgar e legitimar as “gravações de Derkach”, e que foram alvo de sanções económicas decretadas pelo presidente Zelensky.

A 19 de Maio de 2020, Derkach deu a primeira conferência de imprensa em Kyiv, onde tornou públicas as supostas conversas telefónicas entre o vice-presidente americano Joe Biden e o presidente ucraniano Petro Poroshenko. Derkach alegou que Biden usou sua posição oficial para tentar encerrar a investigação sobre a empresa de produção de gás Burisma.

Os canais de TV 112, NewsOne e Zik, dos quais Taras Kozak é o proprietário nominal, transmitiram ao vivo aquela entrevista para um grande público. No total, mais de 700 mil usuários assistiram ao vídeo no YouTube. As informações foram apresentadas não como contraditórias, mas verdadeiras e genuínas.

Os programas que passaram a ir para o ar nesses canais, deram início a uma campanha coordenada para dar credibilidade a essas gravações. A esmagadora maioria dos especialistas convidados enfatizaram que não duvidavam da veracidade e autenticidade das gravações, criando assim a mesma impressão no público.

Exemplos:

• O analista político Ruslan Bortnyk disse ao Canal 112 que as sanções são meramente uma tentativa de silenciar Derkach: “Eles querem fazê-lo calar, pois suas gravações prejudicam gravemente Poroshenko. Hoje as informações das gravações estão a ser confirmadas. E existem sérios riscos para sua segurança pessoal. Derkach pode provar ser um testemunho valioso em novas investigações criminais. Isso é sério, embora muitos estejam a tentar  ignorar tudo. O que Derkach está a fazer? Está a denunciar crimes e não temos direito de não investigá-los.” Https://youtu.be/4u2R41VvcA4
• O analista político Alexander Lazarev assegurou aos telespectadores de Zik que “a alta traição de Poroshenko é confirmada por mais de um facto”. “Este homem tinha uma protecção do lado de Biden. Estas pessoas estão a enriquecer com o sangue e a pobreza de nosso povo ”- clamou Lazarev https://youtu.be/A7TKu788QZQ
• O analista político Kyrylo Molchanov explicou no NewsOne: “Tudo o que Derkach diz, coloca a responsabilidade directa sobre o Gabinete do Procurador-Geral de abrir um processo criminal. Há coisas terríveis lá, a intromissão de Biden nos assuntos internos do país. Biden diz quem despedir, quem nomear, o dinheiro foi retirado. Se tivessem ouvido essas gravações, teriam logo percebido que Poroshenko e Biden tiveram relações tão calorosas. Aparentemente, Poroshenko falava com Biden com mais frequência do que com a sua esposa.” https://youtu.be/qjjM6kY3iIY

Um resumo expandido das declarações de vários especialistas é fornecido no Apêndice 1, no final do artigo. Em conjunto, as suas declarações permitem-nos concluir que todos os três canais tinham uma política de comunicação comum coordenada para dar credibilidade à campanha de desinformação das “gravações de Derkach“. E, assim, o proprietário comum indicado dos canais de TV Taras Kozak e seu actual proprietário, Viktor Medvedchuk, padrinho da filha do presidente russo Vladimir Putin, estavam directamente envolvidos na formação dessa política comum.

Andriy Portnov

Ex-primeiro vice-chefe da administração do então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, um dos principais lobistas contra o desenvolvimento da infraestrutura anticorrupção na Ucrânia, orador frequente de vários canais pró-russos, a maioria dos quais agora está sob sanções na Ucrânia. Portnov participou activamente no esquema para dar credibilidade às “gravações de Derkach” e tentar transformá-las em evidências ao nível judicial.

Portnov foi um dos oradores mais activos sobre o tema das “gravações de Derkach” ao descrevê-las como factuais, insistindo que as mesmas podiam fornecer uma base para investigação criminal contra o ex-presidente Poroshenko.

Eis um exemplo típico de sua retórica: “Se eu fosse procurador, compararia as datas e, em seguida, convocaria o acusado para interrogatório. Ao mesmo tempo, é necessário realizar uma investigação, que, com grande probabilidade, confirmará que é ele próprio. Amostras da sua voz estão amplamente disponíveis em fontes abertas. Vemos um comprador, um vendedor, uma quantia de $ 1 bilhão.” https://youtu.be/iduieEvT0KU

Ao mesmo tempo, Portnov, sem se esconder, publicou um esquema para levar Poroshenko à responsabilidade criminal sob a acusação de alta traição. Nesse esquema de Portnov, as gravações falsificadas já estavam marcadas como provas incriminatórias legítimas, como se tivessem sido apresentadas ao caso e tivessem estatuto oficial.

O esquema foi descrito no blog pessoal de Portnov na publicação intitulada “Plano de investigação com base nas gravações de Poroshenko”. https://aportnov.com/docs/8292/

Ao mesmo tempo, Portnov teve a vantagem de tentar implementar esse esquema, porque o seu advogado e sócio minoritário Oleh Tatarov, dois meses após o lançamento das gravações, foi nomeado vice-chefe do Gabinete do Presidente para interacção com as agências de aplicação da lei. Assim, Portnov, por meio de Tatarov, poderia influenciar as autoridades investigadoras, apontando-as na direção que precisava.

Portnov mantém relações amigáveis com o mencionado Anatoly Shariy. “Já há três meses que tenho exigido a todos os ecrãs de televisão que os processos criminais contra Shariy e Guzhva [Nota do autor: o proprietário nominal do site de notícias pró-russo strana.ua] sejam encerrados, estou a fazer lobby para que estes voltem à Ucrânia e exijo que lhes peçam desculpa pela falsificação dos casos ”, disse Portnov no seu blog.

Portnov também pediu publicamente para as pessoas envolvidas votarem em Nazar Diorditsa nas eleições para o Conselho do Controle Público da Agência Nacional Anticorrupção (NABU), para cujos programas de TV Portnov havia sido convidado anteriormente.

Olexandr Dubinsky (já sujeito às sanções americanas por intromissão nas eleições americanas) admitiu que gostava de Portnov: “Eu gosto dele, gosto das fotografias dele. Portnov tem o meu respeito” https://youtu.be/jCFxXSUTQu8 e publicou uma fotografia de grupo com Portnov na Áustria.

Portnov à esquerda / Dubinsky no centro / Ihor Guzhva à direita

Podemos concluir que Portnov, tendo estado em relações próximas com os indivíduos anteriormente descritos, aproveitando a posição privilegiada de “orador principal” nos canais pró-russos, preparou de maneira aberta, ou seja, publicamente, um esquema “legal” para que as autoridades ucranianas de aplicação da lei tornassem as gravações de Derkach como provas físicas oficiais numa eventual investigação criminal.

Ihor Kolomoisky

Oligarca ucraniano que comprou vários activos nos Estados Unidos para lavar o dinheiro retirado da Ucrânia, beneficiário do canal 1 + 1 (uma participação minoritária nele é detida pelo citado Viktor Medvedchuk), tem influência direta sobre Olexandr Dubinsky (já sob as sanções dos EUA).

Kolomoisky também participou no esquema para legitimar as “gravações de Derkach”. Com base no diálogo nas gravações, que supostamente mencionavam a necessidade de nacionalizar o “PrivatBank”, Kolomoisky entrou com um requerimento no gabinete do Procurador-Geral no qual acusava Poroshenko e a então gerência do Banco Nacional da Ucrânia de conspirar para se apropriarem do seu banco.

*Nota do tradutor: 

Kolomoisky é o ex-proprietário do PrivatBank e é acusado pelo governo dos EUA. O Departamento de Justiça dos EUA iniciou uma acção civil de penhora no Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Sul da Flórida, alegando que um imóvel comercial em Cleveland, Ohio, foi adquirido usando fundos desviados do PrivatBank na Ucrânia como parte de um esquema de empréstimo de biliões de dólares. As três queixas alegam que Ihor Kolomoisky e Gennadiy Boholiubov, proprietários do PrivatBank, um dos maiores bancos da Ucrânia, desviaram e defraudaram o banco em biliões de dólares.

O site UNIAN, que faz parte do grupo de comunicação de Kolomoisky, cobria constantemente todas as alegações de Derkach sobre as gravações que este divulgou, enquanto a notícia de que o serviço de inteligência dos EUA considera Derkach um agente do Kremlin, foi removida.

Kolomoisky influencia directamente Alexander Dubinsky, que sofreu sanções e é conhecido na Verkhovna Rada como o líder do “grupo informal de Kolomoisky” dentro da fração oficial do partido Servo do Povo. Dubinsky trabalhou durante muitos anos no canal 1 + 1 que também pertence a Kolomoisky. Em 2020, Dubinsky tornou-se conhecido no Parlamento como o principal coordenador do bloqueio da chamada “lei anti-Kolomoisky” , que visa tornar irreversível a nacionalização do “PrivatBank” e a devolução do banco a Ihor Kolomoisky impossível.

Kolomoisky afirmou repetidamente que desejava cooperar com Portnov em relação a um pedido ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos contra a nacionalização do “PrivatBank”.

Além disso, Viktor Medvedchuk, que está sob sanções, também é um acionista minoritário do canal 1 + 1 por meio da sua esposa Oksana Marchenko.

Agora, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos iniciou um terceiro processo contra Kolomoisky, acusando-o de lavar o dinheiro retirado do PrivatBank através da compra de imóveis nos Estados Unidos.

Sendo assim, Kolomoisky está directamente interessado na legitimação das “gravações de Derkach” e na desestabilização dos Estados Unidos, o que lhe permitiria preservar os seus activos americanos. Kolomoisky também mantém relações comerciais e amigáveis ​​com outras pessoas envolvidas no esquema para dar legitimidade às gravações.

Oksana Marchenko

Oksana Marchenko (à esquerda) e Viktor Medvedchuk

Apresentadora de TV, esposa do político pró-russo Viktor Medvedchuk (já sob as sanções dos EUA). As participações nos negócios de seu marido estão registadas em seu nome.

Oksana Marchenko é a principal beneficiária da Bolvik Ventures Ltd, uma empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, que detém uma participação minoritária de 10% no canal de televisão  1 + 1 de Kolomoisky (TOV Teleradiocompaniya Studio 1 + 1)

Oksana Marchenko está também registada como proprietária de uma empresa de produção de gás natural na plataforma da Criméia, ocupada pela Rússia.

Além disso, como ficou conhecido em 2020, muitas empresas grandes que anteriormente eram consideradas como controladas por Igor Kolomoisky e pelo seu “Grupo Privat”, receberam novos acionistas, nomeadamente, empresas offshore de Chipre, que têm um beneficiário final comum – Oksana Marchenko

Nazar Diorditsa

Diorditsa, pseudónimo de TV “Max Nazarov”, pivot do canal de TV pró-russo Nash. Teve um papel activo em dar legitimidade às gravações de Derkach e promover este tema para o público internacional.

No dia seguinte à conferência de imprensa de Derkach, a 20 de Maio, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky reuniu jornalistas de todos os principais meios de comunicação para um “encontro informal no relvado”. Era seu aniversário como presidente. Os jornalistas levantaram as mãos, apresentaram-se e colocaram suas perguntas, às quais o presidente Zelensky respondeu.

A pergunta sobre as “gravações Biden-Poroshenko” surgiu como um comentário gritado vindo da multidão. As câmeras focaram-se numa pessoa, o apresentador do canal de TV Nash, Max Nazarov.

“Sim, ouvi falar de Poroshenko e Biden. Acho que esta não é a última chamada de atenção que os ucranianos receberão, disse Zelensky. 

Meios de comunicação internacionais, incluindo New York Post e Washington Post, publicaram a notícia sobre Zelensky a pedir uma investigação sobre as gravações reveladas. Porém, a julgar pelo vídeo, o presidente simplesmente respondeu à pergunta do Sr. Diorditsa. Assim, graças à pergunta de Nazar Diorditsa, as “gravações de Derkach” já atingiram exposição internacional.

Além disso, após a conferência do presidente Zelensky, o membro do parlamento Dubinsky (já sob as sanções dos EUA), deu uma longa entrevista a Diorditsa:

“Controle externo. Existia sob Yanukovych, naquela época eles ligavam do Kremlin. Nós livrámo-nos disso, agora eles estão a ligar de Washington. E as gravações são prova disso.” Https://youtu.be/h4ZWBedsHjA

Diorditsa, mais conhecido como Max Nazarov, está intimamente relacionado a Shariy. Também  tem relações amigáveis de longa duração com Antonina Beloglazova, co-fundadora formal e ex-líder do Partido de Shariy. Quando Diorditsa quis entrar no Conselho de Supervisão Pública do NABU, Shariy pediu apoio à sua candidatura através do seu canal no Telegram. Da mesma forma, Diorditsa fala regularmente em apoio a Shariy pelo seu canal pessoal. Os pais de Diorditsa vivem na Rússia, nos arredores de Moscovo.

RESUMO

Podemos deste modo afirmar que se formou um círculo de pessoas na Ucrânia que, em 2020, participaram propositalmente e de forma consistente na campanha de desinformação russa com o nome de código “gravações de Derkach“. Essas pessoas trabalharam para garantir que os registos falsificados recebessem primeiro o máximo de publicidade possível e fossem afixados na consciência pública como um facto confiável e, então, na véspera das eleições, fossem apresentados aos eleitores americanos como prova irrefutável da corrupção de um dos candidatos. O trabalho foi realizado no interesse da Federação Russa.

Um dos públicos-alvo que esses indivíduos tentaram influenciar, foi o governo ucraniano. O objectivo era forçar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, a iniciar uma investigação oficial  das “gravações de Derkach”, ou pelo menos divulgar essas alegações, o que tornaria a farsa um “facto verdadeiro político” e permitiriam que meios de comunicação se referissem a essa ” investigação ”nos Estados Unidos. Em parte, os participantes da rede conseguiram atingir seus objetivos,  já que o presidente Zelensky foi forçado a responder publicamente a uma pergunta que lhe foi feita por um dos membros daquela “rede”. E foi esse facto, a reação pública do alto funcionário da Ucrânia que tornou o tema local num assunto global que posteriormente recebeu cobertura dos meios de comunicação mais influentes.

Outro objectivo era enganar falantes de língua russa e ucraniana nos Estados Unidos para influenciar os resultados das eleições, além de provocar o caos e a violência. Essa era exactamente a tarefa dos bloggers do YouTube que visavam ao público americano, em particular, de Anatoly Shariy.

Todas essas pessoas estão politicamente e financeiramente conectadas com a Rússia. Anatoly Shariy, Taras Kozak, Nazar Diorditsa, Andriy Portnov, Ihor Kolomoisky, Oksana Marchenko (Medvedchuk) também são agentes da influência russa, juntamente com Andriy Derkach, Olexandr Dubinsky e outros indivíduos que se tornaram alvo de sanções dos EUA anteriormente. Este grupo também tentou influenciar a escolha dos eleitores americanos ao espalhar desinformação, pessoalmente ou por meio de seus meios de comunicação e/ou afiliados.

Indivíduos: 

• Kozak Taras Romanovych, nasceu a 6 de Abril de 1972.
• Shariy Anatoly Anatolyovych, nasceu a 20 de Agosto de 1978.
• Portnov Andriy Volodymyrovych, nasceu a 27 de Outubro de 1973.
• Kolomoisky Ihor Valeriyovych, nasceu a 13 de Fevereiro de 1963.
• Marchenko Oksana Mykhailivna, nasceu a 28 de Abril de 1973.
• Diorditsa Nazar Ruslanovych, nasceu a 11 de Setembro de 1990.

Entidades legais:

• Canais de TV 112, Zik e NewsOne 
• LDA. TOV “TRK 112-TV” / Código EDRPOU 38590676
• LDA. TOV “ARIANDA TV” / Código EDRPOU 37771216
• LDA. TOV “TV VYBIR” / Código EDRPOU 37717618
• LDA. TOV “PARTNER TV” / Código EDRPOU 37717583
• LDA. TOV “NOVIY FORMAT TV” / Código EDRPOU 37771169
• LDA. TOV “LIDER TV” / Código EDRPOU 37725945

* Nota do tradutor: 

1) TOV = LDA. 

2) código EDRPOU  → Registo Estatal Unificado de Empresas e Organizações da Ucrânia  ⇒  Código das Sociedades Comerciais / DRE

Activos de propriedade conjunta de Kolomoisky e Medvedchuk, onde as participações de Medvedchuk estão registadas em nome de Oksana Marchenko:

• LDA. TOV “Teleradiocompaniya Studio 1+1”  / Código EDRPOU 23729809
• S.A. PrAT “Electrometallurgy Plant Dniprospetsstal” / Código EDRPOU 00186536
• S.A. AT “Zaporizhzhya Feroalloy Plant” / Código  EDRPOU 00186542
• S.A. PRAT “Lvivoblenergo” / Código EDRPOU 00131587
• S.A. AT “Prykarpattyaoblenergo” / Código EDRPOU 00131564

* Nota do tradutor: 

                             PrAT → Sociedade por acções / S.A. Sociedade Anónima Privada

                             AT → Sociedade por acções  / S.A. 

ANEXOS

Anexo 1

Resumo das declarações coordenadas de especialistas e oradores sobre a autenticidade e consistência das “gravações de Derkach” em canais pró-russos. O analista político Ruslan Bortnyk disse ao 112 que as sanções são uma tentativa de silenciar Derkach:

“Querem calá-lo, já que suas gravações prejudicam Poroshenko de forma séria. Hoje as informações das gravações estão a ser confirmadas. E existem sérios riscos para sua segurança pessoal. Derkach pode provar ser um testemunho valioso em novas investigações criminais. Isso é sério, embora muitos estejam a tentar ignorar tudo. O que Derkach está a fazer? Denuncia crimes e não temos o direito de não os investigar. “ Https://youtu.be/4u2R41VvcA4

O analista político Olexandr Lazarev assegurou aos telespectadores do Zik que “a alta traição de Poroshenko foi confirmada por mais do que um facto”. “Este homem tinha uma cobertura de Biden. Essas pessoas estão a ficar ricas com o sangue e a pobreza do nosso povo ”- clamou Lazarev. https://youtu.be/A7TKu788QZQ

O analista político Kyrylo Molchanov explicou no NewsOne: “Tudo o que Derkach diz coloca a responsabilidade directa sobre o Gabinete do Procurador-Geral de abrir um processo criminal. Há coisas terríveis lá, a intromissão de Biden nos assuntos internos do país. Biden disse quem despedir, quem nomear, o dinheiro foi retirado. Ao ouvir essas fitas, fica claro que Poroshenko e Biden tinham relações tão calorosas. Aparentemente, falava com Biden com mais frequência do que com a sua esposa. ” https://youtu.be/qjjM6kY3iIY

“Posso dizer que tenho um ouvido musical. Era cem por cento, no meu ouvido, a voz de Poroshenko. Todos os seus erros típicos. Não é que estejamos a parodiar a voz de alguém. É que cada pessoa tem elementos distintos da sua entoação e erros ”, explicou o graduado do Instituto Militar de Línguas Estrangeiras de Moscovo. Esta foi a única universidade na URSS que treinou tradutores militares e propagandistas. https://youtu.be/tkC__6rWwtQ

Oleksandr Dubinsky (já sob as sanções do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos) garantiu que não tinha ligação com Derkach. Eis o que Dubinsky disse a 19 de Maio:

“Claro que ouvi [sobre as gravações] e fiz uma nova publicação no meu canal do Telegram. E, francamente, para mim esta é uma confirmação absoluta da traição de Petro Poroshenko em relação ao controle externo, que temos observado há seis anos. E não sei o que é necessário mais para provar a culpa do quinto presidente no facto de o país ser governado por outras pessoas, mas não por ucranianos ”. https://youtu.be/97mEeNwKLuc

No mesmo dia, Andriy Telizhenko, que também sofreu sanções posteriormente, falou dos “crimes de Joe Biden e Petro Poroshenko”. https://youtu.be/UO7BwL6i9G0

Oleh Voloshyn, também membro do partido de Viktor Medvedchuk, explicou ao público que “não houve nada mais significativo nos últimos meses do que a entrevista pública de Derkach”.

“O que há de novo lá? O facto de que Biden ameaçou não entregar um bilião de dólares à Ucrânia se Shokin não fosse demitido. Shokin é culpado perante Biden por investigar as actividades duma empresa onde o filho de Biden recebia US $ 50.000 por mês”, disse Voloshin. https://youtu.be/w53m2SEXfKc

Anexo 2

Lista de declarações de Anatoly Shariy sobre a autenticidade das “gravações de Derkach”

Tradução: Helena Sofia da Costa. Distribuição e partilha com referência à fonte são bem-vindas! O InformNapalm não tem nenhum apoio financeiro do governo de nenhum país ou doador, os únicos patrocinadores do projeto são os seus voluntários e leitores. Também pode ajudar o InformNapalm com uma contribuição através da plataforma Patreon. Siga o InformNapalm no Facebook / Twitter / Telegram e fique a par das novas publicações da comunidade.