
A fase activa das manobras militares em grande escala Zapad-2021 começou a 10 de Setembro em campos de treino militar russos e bielorrussos. Foi oficialmente anunciado que os exercícios teriam lugar em 14 bases de treino militar (nove deles são russos e cinco são bielorrussos), bem como no Mar Báltico. Os exercícios envolvem 200.000 soldados, aproximadamente 760 peças de equipamento militar, 80 aeronaves e 15 navios.
Segundo dados oficiais, na Rússia, a maior parte das manobras serão realizadas nas bases de treino situadas em Kirillovsky, Strugi Krasnye, Mulino, Pogonovo, Khmelevka, Pravdinsky, Dobrovolsky, Dorogobuzh e Volsky.
Os exercícios anteriores da série Zapad foram realizados em 2017. Nos anos seguintes, as Forças Armadas russas realizaram outros exercícios estratégicos, como Vostok-2018, Centro-2019 e Cáucaso-2020 noutras regiões russas. Em 2021, a direção principal da demonstração do poder militar foi novamente deslocada para o Ocidente.
As manobras Zapad-2021 deste ano também são especiais porque ocorrem no contexto da deterioração da situação política na própria Bielorrússia e das constantes provocações híbridas de guardas de fronteira bielorrussos na fronteira com a Lituânia.
Na primavera de 2021, o mundo assistiu à transferência em grande escala de equipamento militar russo para as fronteiras ucranianas e falou-se novamente nos perigos de uma invasão total ou parcialmente híbrida. Uma possível invasão não afetaria apenas as duas regiões orientais da Ucrânia, onde a Rússia trava uma guerra híbrida desde abril de 2014 sob o disfarce das formações controladas por Moscovo, República Popular de Donetsk (DPR) e República Popular de Luhansk (LPR), mas também em outras áreas, incluindo o sul ou o norte da Ucrânia. Os possíveis desafios do Zapad-2021 aplicam-se não apenas à Ucrânia, mas também a todo o sistema de segurança dos países da OTAN.
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O início das manobras e os seus factores de perigo
A 8 de Setembro de 2021, o serviço de imprensa do Ministério da Defesa da Belarus anunciou que os caças russos Su-30SM-PKS aterraram na base de Baranavichi para fazer parte das manobras de treino bem como do centro de combate para o treino conjunto das Forças Aéreas da Rússia e da Belarus e das Forças de defesa aérea desses países.
Uma fotografia do canal oficial do YouTube do Ministério da Defesa da Belarus datada de 8 de Setembro de 2021.
Em 2015, a Comunidade Internacional Voluntária de Informação InformNapalm chamou a atenção para os factores de risco ligados à preparação de uma cabeça de ponte para a Força Aérea Russa na Belarus. Em 2016, o desenvolvimento desta cabeça de ponte foi suspenso, mas foi retomado a 5 de Março de 2021. Durante uma reunião em Moscovo, o Ministro da Defesa da Belarus, Tenente General Viktar Khrenin e o Ministro da Defesa da Rússia, Sergey Shoigu, discutiram a implementação do Programa de Parceria Estratégica da Belarus para 2021-2025 e assim foi estabelecida a formação de três centros conjuntos de treino e combate.
Um vídeo do canal oficial no YouTube do Ministério da Defesa da Rússia datado de 8 de Setembro de 2021. O local não é especificado, mas o vídeo mostra o mesmo número da cauda no avião que na notícia do Ministério da Defesa da Belarus de 8 de Setembro sobre a redistribuição dos caças.
*Nota do InformNapalm:
O caça multifuncional Su-30SM com número de cauda 57 (vermelho), número de registo RF-81768 foi colocado em serviço com o 14º Regimento de Aviação de Caça em 2018, baseado permanentemente em Kursk. O avião foi transferido a 8 de Setembro de 2021 e colocado em serviço de combate a 10 de Setembro na 61ª Base da Força Aérea em Baranavichi, Belarus.
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A República de Belarus
A 28 de Junho de 2021, a edição bielorrussa da InformNapalm publicou a sua própria investigação OSINT, segundo a qual, através da análise das requisições governamentais planeadas para o transporte de carga militar da Rússia, descobriu-se que as manobras Zapad-2021 cobririam quase todo o território da Belarus.
A 10 de Setembro, o Ministério da Defesa da Belarus anunciou oficialmente que as seguintes bases de treino serão utilizadas para realizar as manobras no seu território: a 230ª Base de Armas Combinadas de Obuz-Lesnovsky; a 174ª Base de Treino da Força Aérea e Forças de Defesa Aérea “Voznesensky”; a 210ª Base de Aviação “Ruzhanskiy” e a Base de Treino “Brestskiy”.
A 10 de Setembro de 2021, militares da 76ª Divisão de Assalto Aéreo (AAD) das Forças Armadas Russas (unidade militar 07264), que está a participar nas manobras Zapad-2021, foi transferido para a 230ª Base de Armas Combinadas Obuz-Lesnovsky.
O banco de dados OSINT da InformNapalm contém numerosos dados com evidências da participação de soldados do 76º AAD russo na guerra contra a Geórgia, na invasão da Crimeia e na guerra no leste da Ucrânia. Foi igualmente estabelecido que pára-quedistas do 104º Regimento de Assalto Aéreo do 76º AAD da Rússia em 2014 participaram na apreensão de plataformas de perfuração pertencentes à empresa ucraniana Chornomornaftogaz. Os voluntários da InformNapalm também recolheram informações sobre os comandantes da 76ª AAD que foram designados para participar na guerra contra a Ucrânia e a Geórgia.
Conclusões
Constatamos que de momento estamos a observar apenas o início da fase activa dos exercícios militares Zapad-2021. As ameaças e os desafios ocultos dos exercícios devem agora ser levados em consideração, pois são factores de risco duma agressão híbrida sustentada contra a Ucrânia e os países da OTAN/NATO.
Há um aspecto dos exercícios que não faz parte do componente de superfície, mas está dentro da esfera da informação. Por exemplo, de 7 a 9 de Setembro, os voluntários da InformNapalm testemunharam o desenrolar de uma típica ação de desinformação russa PSYOP contra a Ucrânia. Essa campanha de desinformação concentrou-se na direção do sul. Campanhas nos meios de comunicação no contexto da “crise migratória” artificialmente criada pela Belarus ao longo da fronteira com a Lituânia também foram observadas no dia anterior.
Portanto, o componente de informação desempenha igualmente um papel importante nessas manobras. A agressão militar em guerras e conflitos híbridos modernos travados pela Rússia nas diferentes partes do mundo é apenas uma continuação das suas operações de influência. Em primeiro lugar, as unidades PSYOPS russas criam condições favoráveis para as tarefas determinadas e, só depois disso, seguem os mercenários ou soldados sem insígnia, mas que usam as mais recentes tecnologias russas. Por essa razão, é importante monitorizar não apenas os movimentos de tropas russas, mas também os surtos de ataques de desinformação nos meios de comunicação e no ciberespaço.
A tomada militar e política da Belarus pela Rússia no contexto da crise política está a intensificar-se e a acelerar-se também sob o disfarce dessas manobras militares em grande escala. Na Belarus, uma testa de ponte de aviação para as Forças Armadas russas está a ser usada, e as mesmas unidades russas, que foram activamente envolvidas na operação de captura da Crimeia e,em geral, na agressão híbrida contra a Ucrânia, estão agora a realizar reconhecimento e treino.
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