A 13 de Abril, o site do Ministério da Defesa da Rússia informou que os navios da flotilha do Cáspio seguiram ao longo do rio Don para o mar de Azov. O comunicado referia-se ao transbordo de 15 navios, incluindo 3 barcos de artilharia e 8 embarcações de desembarque, bem como embarcações de apoio.
Avaliação de ameaça
Pavlo Lakiychuk, Chefe de Programas de Segurança no Centro de Estudos Globais “Estratégia XXI” (the Centre of Global Studies “Strategy XXI”), forneceu a sua própria análise focada na realidade das ameaças militares devido às seguintes manobras:
“O próprio facto da redistribuição temporária de navios militares do Mar Cáspio não é surpreendente. Desde 2016, tendo assumido o controle total do Mar de Azov, os russos têm trabalhado para fortalecer o agrupamento de forças ali e no Estreito de Kerch, inclusive utilizando navios da flotilha do Cáspio.
Foram desenvolvidas duas maneiras de transferir embarcações do Mar Cáspio para o Mar de Azov: a “rota do sul” – de Makhachkala a Rostov em plataformas ferroviárias, e a “rota do norte” – por vias navegáveis interiores de Astrakhan através do Volga – Canal Volga-Don – Don e mais para o Mar de Azov. A segunda opção é preferível porque pode dirigir não apenas pequenas embarcações, mas também pequenos navios de tipo corveta. Em particular, em 2016, dois navios pequenos lança mísseis da classe Buyan da flotilha do Cáspio, Serpukhov e Zeleny Dol, procederam através do Canal do Volga-Don até o Mar de Azov e o Mar Negro e mais adiante para o Mediterrâneo, de onde dispararam mísseis Calibre sobre a Síria. Mais tarde, em 2018, uma campanha semelhante foi realizada pelos navios pequenos lança mísseis do Cáspio “Grad Sviyazhsk” e “Veliky Ustyug”.
Durante a escalada da crise de Azov em Maio de 2018, sem muita publicidade, um grupo de três barcos de artilharia – dois barcos blindados de rio da classe “Shmel” 1204 – AK-201 e AK-248 e um barco “Grif” 1400M AK-326 de alta velocidade, vieram para Kerch pelo Canal Volga-Don. Junto com eles, o barco de mergulho RVK-933 e o rebocador RB-410 chegaram ao mar de Azov pela rota fluvial interior. Naquela época, a redistribuição de barcos do Mar Cáspio para o Mar de Azov foi explicada como sendo um treino de combate anteriormente planeado, mas os navios retornaram a Astrakhan apenas no final do Outono, quando as hostilidades, que envolveram a captura de dois barcos ucranianos no Estreito de Kerch, diminuíram.
Nota do tradutor: *As canhoneiras da classe Projeto 1204 são um tipo de canhoneira fluvial russa. A OTAN atribui-lhes o nome de código “Bumblebee”.
A utilização de navios e embarcações da flotilha do Cáspio no Mar de Azov justifica-se do ponto de vista militar: a Frota do Mar Negro foi concebida para operações em águas profundas dos Mar Negro e Mar Mediterrâneo e não pode ser utilizada para operações de combate nas águas rasas do mar de Azov, enquanto os navios da flotilha do Cáspio podem fazê-lo.
Imediatamente após a reportagem nos meios de comunicação, tornou-se claro que os russos haviam enviado barcos do esquadrão de desembarque para Azov – os chamados DESO com navios de apoio de fogo (OKOP – um destacamento de navios de apoio de fogo). O 242º Regimento de Barcos de Desembarque e o 327º Regimento de Navios de Artilharia realizam regularmente essas tarefas no Mar Cáspio. Também se ficou a saber que eram destinados a tarefas semelhantes. Posteriormente, soube-se que todas as embarcações de desembarque prontas para combate da classe Serna 11770 e todas as embarcações de artilharia da classe “Shmel” à disposição da flotilha do Cáspio, bem como a embarcação hidrográfica GS-559, foram transferidas para o mar de Azov.
Como resultado, no Mar de Azov existe agora um grupo de barcos da flotilha do Cáspio consistindo 5 a 6 barcos de desembarque da classe 11770, 3-4 barcos de artilharia da classe 1204 e 2-3 navios de apoio.
O que é que eles podem fazer?
Podem realizar desembarques tácticos de companhia (por exemplo, para o 382º Batalhão de Fuzileiros Navais separado com base em Temryuk) na costa não equipada nas áreas rasas do mar de Azov e do Lago Sivash. Isso não pode ser feito pelos grandes navios de desembarque da Frota do Mar Negro das classes 1171 e 775, pois, são muito grandes, com um grande calado. Deve-se ter em mente que recentemente a Frota do Mar Negro adquiriu dois barcos “Serna” baseados em Novorossiysk e um par de barcos de assalto da classe BK-16 (projeto 02510), duplicando assim a capacidade de desembarque dos russos no Mar de Azov.
O que é um desembarque táctico de companhia?
Essas não são as principais forças da ofensiva. É um tipo de combate táctico para capturar uma cabeça de ponte estrategicamente importante na retaguarda ou no flanco do inimigo e retê-la até a chegada das forças principais. Portanto, embora os barcos do Cáspio representem uma ameaça, o perigo principal deve ser esperado de outra direção.
O que podemos fazer?
A Ucrânia não pode impedir as operações russas no mar de qualquer forma que não seja a declaração de uma “provocação” pelos russos: o notório Acordo entre a Ucrânia e a Federação Russa sobre Cooperação no Uso do Mar de Azov e do Estreito de Kerch de 2003, que define Azov como “águas interiores comuns” (o que é um absurdo em si) ainda está em vigor. Com base nisso, os russos consideram-se “donos” no Mar de Azov. As forças ucranianas no Mar de Azov são muito pequenas.
No entanto, se necessário, quatro barcos ucranianos “Gurza” baseados na base naval Leste, com o apoio adequado dos barcos da Guarda Costeira, são capazes de responder a esta ameaça. A principal tarefa é fortalecer a defesa anti-desembarque: restaurar após o inverno a infraestrutura anti-desembarque das áreas costeiras onde as forças inimigas podem desembarcar e aumentar as forças móveis da defesa costeira. É importante realizar uma monitorização constante das águas e observar as acções do inimigo. Os nossos marinheiros estão bem treinados e podem fazê-lo. É sempre mais fácil evitar um desembarque marítimo do que atacar – esta é uma estratégia clássica. Os militares ucranianos realizam anualmente exercícios militares de grande escala com fogo real na costa do Mar de Azov, cujo nome de código é “Vento de cauda”. Recentemente, exercícios em grande escala para repelir a ofensiva, incluindo a proveniente do mar, foram realizados perto da Crimeia ocupada. A nossa artilharia costeira e pára-quedistas continuam o seu treino.”
Gostaríamos de vos lembrar que em Março de 2021, a Comunidade Internacional de Voluntários InformNapalm já publicou uma análise preparada por Pavlo Lakiychuk que avaliou a escala da militarização da Crimeia. Essa análise está disponível em 12 idiomas.
- Provas da agressão russa: a InformNapalm lança uma extensa base de dados de evidências
- Volunteers gathered evidence of 32 Russian military units taking part in the invasion of Crimea
- List-1097: How the Russian 18th Brigade occupied Crimea
- Militares da Base de Aviação Naval russa 7057 participaram na anexação da Crimeia
- Militarization of Crimea by Russia. Infographics
- Russian nuclear weapons are already in Crimea – an expert on international maritime law brings up numerous facts
- OSCE PA Representatives Receive Publications on Occupation of Crimea During US Elections Monitoring (PHOTO REPORT)
- Start of Russian occupation of Crimea: what happened on February 27, 2014?
- Avistado pela primeira vez no Donbas: sistema de radar russo Kasta-2E1
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