Apresentamos-vos uma análise que foi publicada pela revista “Ukrayinsky Tyzhden (“Semana Ucraniana”, em ucraniano Український Тиждень) a 9 de Março de 2021. A análise foi preparada por Pavlo Lakiychuk, Chefe de Programas de Segurança no Centro de Estudos Globais “Estratégia XXI ” (The Centre for Global Studies “Strategy XXI”). Os editores da InformNapalm adicionaram links aplicáveis no contexto deste tema e imagens relevantes, que complementam esta publicação.
Sete anos após a invasão russa da Crimeia, o mundo inteiro já tem a certeza de que a ocupação da península não foi uma reação espontânea do comando do Distrito Sul das Forças Armadas da Federação Russa à situação instável na Ucrânia, mas uma operação de invasão bem pensada e pré-planeada. A partir daí, os russos sabiam exactamente o que fariam em seguida: em particular, que tipo de órgãos de governo do território ocupado criar, com quem contar, quem contratar e como se “legalizar”. O mesmo aplicou-se ao agrupamento de tropas e forças que se formaram na península ocupada: calcularam qual deveria ser a sua composição, subordinação, sistema de comando e controle e quais os recursos necessários para tal.
Contingente de ocupação
Foi planeado construir o agrupamento de tropas da Crimeia com base em unidades e formações da Frota do Mar Negro estacionadas na Crimeia e na cidade de Sevastópol até 2014, conforme o Acordo entre a Ucrânia e a Federação Russa sobre o estatuto e condições da presença da Rússia Frota do Mar Negro no território da Ucrânia. A organização da Frota do Mar Negro e outras formações militares das Forças Armadas da URSS até 1991 foi tida como a estrutura básica; isso exigiu esforços mínimos para restaurar a base e o sistema de comando. Mas, no decorrer da operação, foram feitos ajustes aos planos anteriores.
A dinâmica da militarização da Crimeia temporariamente ocupada pela Federação Russa. Análise por parte Ucraniana da OSCE
Primeiro, a fim de diminuir as tensões sociais e para não criar uma “quinta coluna” de militares das Forças Armadas da Ucrânia na retaguarda, foi decidido integrar nas Forças Armadas da Federação Russa de maneira mais indolor possível os traidores ucranianos, aqueles que concordaram em aliar-se ao inimigo na época do conflito.
Em segundo lugar, quando a Ucrânia recuperou do primeiro golpe e começou a resistir no Leste do país, tornou-se necessário formar um agrupamento de forças no norte da Crimeia. As suas tarefas eram atacar profundamente divisões da defesa das Forças Armadas da Ucrânia no continente ou, se a situação mudar, repelir um contra-ataque das tropas ucranianas na tentativa de libertar a península. Inicialmente, deveria ser um agrupamento temporário, formado por unidades de assalto aerotransportadas e de infantaria motorizada e, posteriormente, o agrupamento permanente, de tropas regulares. De futuro, os russos, dadas as capacidades limitadas do seu próprio complexo militar-industrial e as mudanças da situação geopolítica, tiveram de abandonar alguns projetos “gigantes”. Foi assim que o grupo misto das forças de ocupação russas na Crimeia foi formado.
Segundo dados do comando das Forças Conjuntas das Forças Armadas da Ucrânia, no início de 2021, o número total de agrupamentos de tropas e forças das Forças Armadas da Federação Russa na Crimeia ocupada é de cerca de 32.500 militares, incluindo o componente naval e aérea, até 21.000, e o terrestre, mais de 1.500 militares (incluindo os que permanecem em rotação).
O Comandante da Marinha Ucraniana, Contra-Almirante Oleksiy Neizhpapa, observou: “A Federação Russa transformou a República Autónoma da Crimeia numa poderosa base militar; Em sete anos, a força de combate dos navios de superfície e submarinos da Frota do Mar Negro aumentou 45%. O número total é de 58 unidades, incluindo os porta-mísseis marítimos «Calibr» – 13 unidades. Segundo o Contra-Almirante, o número de aviões de guerra russos mais do que triplicou, de helicópteros aumentou nove vezes, o número de tanques chegou a quase 40 unidades, veículos blindados de combate aumentou seis vezes, e múltiplos sistemas de lançamento de foguetes – 6,5 vezes.
“Long arm” (“Braço comprido”): O poder de fogo total das armas da Frota Russa do Mar Negro na Crimeia por alcance. “Semana ucraniana”
Durante sete anos, os russos encheram a Crimeia de armas, transformando a península de um resort à beira-mar num ponto de apoio militar ofensivo e continuam a fortalecê-lo. Portanto, a liderança político-militar da Federação Russa prometeu recentemente aumentar o número de agrupamentos militares na Crimeia para 45 mil elementos durante os próximos anos.
Aumento de força
A primeira coisa a ter em atenção é o aumento significativo no potencial de ataque de mísseis, principalmente, devido às embarcações com mísseis anti-navio Calibr-NK / PL (ASM) com um alcance de disparo de 220-300 km, também como aos seus homólogos costeiros, nomeadamente, os sistemas de mísseis anti-navio (SCRC) «Ball» (120 km) e «Bastião» (300 km). Uma das características estratégicas e operacionais importantes de qualquer frota militar é o “poder de fogo total”. Ou seja, a quantidade de explosivos lançados na primeira salva de todos os activos da frota. Até agora, a salva total da Frota do Mar Negro com armas de mísseis é de 73 toneladas. Este é um parâmetro importante que não deve preocupar apenas os países do Mar Negro, mas também deve ser tido em consideração pelos parceiros da OTAN no Mediterrâneo Central e Oriental. Por quê e como houve um aumento tão acentuado do potencial de combate?
O navio líder da classe Projeto 11356 “Admiral Grigorovich” (“Almirante Grigorovich”) retorna a Sevastópol do serviço de combate no Mar Mediterrâneo. Dezembro de 2016. Fotografia do Ministério da Defesa da Federação Russa.
Em primeiro lugar, é necessário notar o reabastecimento do núcleo de combate da Marinha com fragatas – navios de patrulha da classe Projeto 11356. Isso indica mais uma vez que o fortalecimento da Frota do Mar Negro na Crimeia foi planeado pela Rússia muito antes da sua ocupação factual. A classe Projeto 11356 é a evolução da classe Projeto 1135 M, desenvolvida para a Marinha da Índia. Em 2000-2010, seis fragatas de tipo “Talvar” foram construídas para as Forças Russas no estaleiro naval “Yantar”da cidade de Kaliningrado bem como no estaleiro “Baltiysky” (São Petersburgo) em cooperação com o complexo de produção ucraniano “Zorya-Mashproekt”. Depois disso, as autoridades russas decidiram desenvolver uma série de sucesso no interesse de sua própria marinha, por isso, em Kaliningrado em 2010-2013 foi colocada em produção mais uma série de seis navios. Em 2014, turbinas a gás ucranianas foram instaladas em três deles. Dois anos depois, aqueles navios com turbinas ucranianas voltaram à Ucrânia com os dos inimigos. No entanto, devido ao embargo ucraniano imposto após o início do conflito armado russo-ucraniano, três navios permaneceram inacabados.
Submarino «Veliky Novgorod» da classe Projeto 636 (nome OTAN: Classe Kilo) na baía sul de Sevastopol. Março de 2019. Fotografia do Ministério da Defesa da Federação Russa.
O segundo componente, que aumentou significativamente o potencial de mísseis da Frota do Mar Negro, é composto pelos submarinos da classe Projeto 636. Até 2014, a Frota do Mar Negro da Rússia na verdade tinha apenas um submarino: o Projeto 877B “Alrosa” (enquanto o outro, o submarino B-380, nao podia ser considerado uma unidade de combate, pois, estava constante em reparação), o que, claramente, não foi suficiente para o Mar Negro. Assim, em 2010, o comando da Marinha russa decidiu construir seis submarinos no âmbito do projeto de exportação 636, que era uma continuação do projeto 877 «Varshavyanka». Devido às restrições à substituição de armas, impostas pela Ucrânia para a Frota Russa do Mar Negro na Crimeia, foi escolhido outro local de implantação das brigadas de submarinas, o Geoport de Novorossiysk. Os navios chegaram à Frota do Mar Negro durante o segundo semestre de 2014 até ao final de 2016. Embora Novorossiysk seja o local da recém-formada 4ª Brigada de Infantaria, na maioria das vezes os navios e militares permaneceram baseados na Baía Sul de Sevastopol.
A classe Projeto 21631, pequeno navio com mísseis «Serpukhov» na baía de Sevastopol. Março de 2016. Fotografia do Ministério da Defesa da Federação Russa.
Sendo limitada a possibilidade de construir navios de alto mar, a Rússia nos últimos anos tem-se concentrado em reequipar a Frota do Mar Negro com pequenos navios de patrulha e mísseis. Afinal, é mais barato e mais rápido. Desde 2015, a frota foi reabastecida com seis navios lança mísseis da classe Projeto 21631 (Buyan-M), que estão a ser construídos para as Frotas russas do Mar Negro e do Báltico no estaleiro de Zelenodolsk, sendo transportados por vias navegáveis interiores primeiro para o Mar de Azov e depois para o Mar Negro ( dois daqueles navios foram transferidos para a Frota do Báltico). O último, “Grayvoron”, entrou na frota a 30 de Janeiro de 2021. No futuro, mais um ou dois navios desta classe serão entregues à Frota do Mar Negro.
Junto com os barcos de mísseis, o estaleiro de Zelenodolsk também produz navios de patrulha para a Frota do Mar Negro, em particularda classe Projeto 22160 (tipo “Vasily Bykov”). Desde 2018, a Frota do Mar Negro foi reabastecida com quatro navios dessa classe. O mais recente, “Sergei Kotov” foi lançado em 29 de Janeiro. No total, há seis unidades desta classe, com entrega prevista para o final de 2023.
É importante referir que, a partir do terceiro navio da classe, esses navios sejam construídos no estaleiro capturado de «Zaliv» da cidade de Kerch. Isso deve tornar-se não apenas um motivo para a extensão das sanções internacionais contra o produtor, mas também o assunto de negociações entre a Ucrânia e os estados do Mar Negro para restringir a entrada desses navios em seu mar territorial, especialmente, com a Turquia, e proibi-los de cruzar o Estreito do Mar Negro.
Cerimônia de lançamento do navio de patrulha «Sergei Kotov» da classe Projeto 22160 no estaleiro «Zaliv» de Kerch. Janeiro de 2021. Fotografia do Ministério da Defesa da Federação Russa.
Potencial de forças terrestres
O fortalecimento do agrupamento naval da frota russa no Mar Negro é uma séria ameaça para os seus vizinhos. No entanto, a formação de um agrupamento ofensivo de forças terrestres russas na península da Crimeia é extremamente perigosa para a Ucrânia.
O número de forças terrestres na Crimeia (considerando apenas unidades e formações do exército, tropas anfíbias e fuzileiros navais, e excluindo várias formações paramilitares, como a “Rosgvardia”) é superior a 11,5 mil, ou seja, mais de um terço de todo o grupo militar na península. Essas unidades estão sob a tutela do corpo de exército de subordinação naval: esta é uma formação táctico-operacional de forças terrestres, subordinada ao comandante da frota e é capaz de conduzir operações militares tanto de forma independente quanto como parte duma variedade diversificada de agrupamentos de forças navais. A primeira vez que a Rússia implementou o conceito de subordinar todo o grupo de forças armadas no território local ao comandante da frota foi no início de 2000 no Báltico quando todas as unidades e formações das Forças Armadas russas no enclave de Kaliningrado ficaram subordinadas ao comandante da Frota do Báltico. Após a ocupação da Crimeia, esse conceito chegou a um resultado lógico: em Abril de 2016, o 11º Corpo do Exército de treino táctico operacional das Forças Costeiras da Marinha Russa da Frota do Báltico foi formado em Kaliningrado e, em 2017, foi formado o Corpo da Frota do Mar Negro, bem como das Frotas do Norte e do Pacífico.
22º Corpo de Exército (quartel-general em Simferopol) inclui:
- 126ª brigada de defesa costeira separada, unidade militar 12676 (aldeia de Perevalnoe, formada com base na 36ª brigada “integrada” da Marinha da Ucrânia);
- 127ª brigada de reconhecimento separada, unidade militar 67606 (Sevastopol, formada com base no Centro SIGINT (sigla do sinal de inteligência) da Marinha da Ucrânia, bem como unidades de reconhecimento aéreo e militar);
- 8º Regimento de Artilharia Independente, unidade militar 87714 (aldeia de Perevalnoye, formada com base no 406º Grupo de Artilharia de Brigada Independente das Forças Navais Ucranianas);
- 1096º Regimento de Mísseis Antiaéreos Separado, Unidade Militar 83576 (Sevastopol);
- 4º regimento das tropas de proteção anti-radiação, proteção química e biológica separado da Rússia, unidade militar 86862 (Sevastopol) e outras unidades de apoio.
Do ponto de vista operacional, a 810ª Brigada de Infantaria de Fuzileiros Navais (Sevastopol) e unidades (geralmente grupos tácticos de batalhão) de brigadas de infantaria motorizadas e aerotransportadas, que funcionam em regime de rotação como parte de um grupo de ataque no norte da Crimeia, também estão subordinadas ao Quartel-General do Corpo do Exército (com uma força total de até 1.5000 militares).
As tarefas do 11º e 22º Corpo do Exército são semelhantes: conduzir operações de combate defensivo e ofensivo na costa, tanto de forma independente quanto em cooperação com as tropas do Distrito Militar Especial Ocidental e do Distrito Militar do Sul, respectivamente.
E se para a Frota do Báltico a principal tarefa é eliminar o «Corredor se Suwalki» que liga o território dos países bálticos à Polónia e ao resto da OTAN, para o grupo de ataque de tropas na Crimeia é a captura do complexo hidroeléctrico de Kakhovka, bem como uma ofensiva (contra-ofensiva) na direção de Melitopol. Para isso, de acordo com o exército russo, o corpo tem tudo o que precisa, começando com uma importante força de tanques de batalha e até poderosos mísseis e grupos de artilharia.
Um sinal característico de prontidão para operações de combate ofensivas é considerado o realinhamento para a fronteira do estado (linha de frente) de unidades de armas de combate específicas: de aviação militar, de assaltos aéreos e de tropas paraquedistas.
No aeródromo de Dzhankoy em Janeiro de 2015, foi formado o 39º regimento de helicópteros formado com base em helicópteros de reconhecimento e de ataque modernizados Ka-52 M (1º Esquadrão); de helicópteros de transporte e de combate Mi-35; de helicópteros de ataque Mi-28 (2º Esquadrão); de helicópteros de transporte e combate Mi-8 (OTAN → Mi-8MA,Versão de exploração polar para uso no Ártico) (3º Esquadrão).
Em 2016-2017, a Rússia também queria realocar o batalhão de assalto aéreo do 97º Regimento da 7ª Divisão de Assalto Aerotransportado para Dzhankoy, com base no qual formariam um regimento de assalto aerotransportado separado. Por alguma razão, esses planos ainda não se materializaram, mas a ideia de formar uma força aerotransportada na estrutura ” Regimento de aviação militar – Regimento de assaltos aéreos e de tropas paraquedistas” é bastante lógica e não foi completamente esquecida.
Céu interditado
Aterragem de dois Su-30M2s no aeródromo de Belbek após o voo do Kuban para a Crimeia. Dezembro de 2018. Fotografia do Ministério da Defesa da Federação Russa.
Durante os sete anos de ocupação, a Rússia criou um “guarda-chuva” antiaéreo confiável sobre a Crimeia por meio de uma poderosa força aérea e sistemas de defesa aérea terrestre. Em primeiro lugar, trata-se do rearmamento dos antigos regimentos de mísseis antiaéreos, que na Ucrânia estavam armados com o sistema de defesa antiaérea S-300 PS (é um sistema de mísseis terra-ar com alcance de 100 km), com os novos sistemas de mísseis antiaéreos S-400 (S-400 Triunfo é uma nova geração de sistema de mísseis antiaéreos desenvolvido pelo “Almaz” Central Design Bureau da Rússia na década de 1990 como uma atualização da família de mísseis S-300).Ao mesmo tempo, os limites da área de cobertura de aeronaves inimigas aumentaram de 75-150 km para 400 km. Na verdade, são capazes de atacar a aviação de ataque da Ucrânia antes que ela atinja a linha de alcance do seu armamento.
O número de aeronaves e o poder de combate da aviação de combate com base nos aeródromos da Crimeia também aumentaram 10 vezes(em termos de número de aeronaves, três vezes). Em particular os caças interceptores Su-27SM e Su-27P, caças Su-30M2 baseados no aeródromo de Belbek em Sevastopol.
No aeródromo de Gvardeyskoye (aldeia de Ostryakovo), em vez do 43º Regimento de Aviação de Assalto Naval Separado da Frota do Mar Negro, equipado com Su 24/Su24M e Su 30SM, que foi transferido para vila de Saki (aldeia de Novofedorovka), foi formado o 37º Regimento de Aviação Misto da Força Aérea por dois esquadrões (um esquadrão de bombardeiros de linha de frente Su-24M e um esquadrão de aeronaves de ataque Su-25SM, 12 caças cada).
No que diz respeito aos rumores sobre a presença dos Tu 22M3* na Crimeia (e até 1991 uma divisão completa armada com mísseis navais estava baseada na Crimeia, nos aeródromos de “Gvardeyskoye”, de “Saki”, de “Oktyabrskoye” e de” Veseloe “. Nomeadamente, a 2ª Divisão de Minas e Torpedos da Força Aérea Naval de Mina), era nada mais do que uma “bolha de sabão”, criada para provocar a OTAN. O facto é que, durante a época da Guerra Fria, os porta-mísseis dos aeródromos da Criméia destinados a atacar as instalações da OTAN no Mar Mediterrâneo central (o objectivo principal era o agrupamento da 6ª Frota dos EUA em Nápoles) realizaram o acesso ao potencial uso de armas sobre a Bulgária ocidental e da Roménia.
Agora a Roménia e a Bulgária são membros da Aliança Atlântica, cobertos pela confiável defesa aérea e antimísseis dos Aliados. Portanto, os alvos no Mar Mediterrâneo tornam-se inatingíveis para a aviação estratégica da Federação Russa, e para alcançar apenas a linha de uso de armas e não entrar na zona de defesa aérea inimiga, o Tu-22 baseado nos aeródromos na Crimeia teria de subir em direção a Kuban e Mar de Azov e então, após a curva, lançar mísseis Que passariam por cima da Crimeia. Moscovo percebeu isso rapidamente e abandonou a ideia. Voos individuais de um Tu-22 para a Crimeia a partir de bases aéreas na Rússia central ainda são possíveis, no entanto, serão voos de demonstração e servirão para estudo do teatro de guerra pelas suas equipes.
*(NATO reporting name: Backfire, é uma aeronave supersónica de geometria variável, bombardeiro estratégico e marítimo de longo alcance desenvolvido pela Tupolev Design Bureau)
Decolagem do Tu-22M3. Foto ilustrativa. Autor Dmitriy Pichugin. GFDL
O ponto fraco da aviação naval da Frota do Mar Negro é a falta de capacidade de substituição da frota de aviões anti-submarinos. O número de aeronaves anfíbias Be-12, materialmente obsoletas, está a diminuir constantemente (há apenas cinco unidades de combate restantes em vários graus de prontidão, como parte do 318º Regimento Misto de Aviação Naval Separado “Kacha”). A indústria russa não pode oferecer um substituto moderno. Uma única aeronave anti-submarino Il-38N de longo alcance, transferida em 2017 para Yeysk, não pode substituí-los.
“O resort” nuclear
Enquanto se fala da militarização da Crimeia, o problema da presença ou ausência de armas nucleares na península não pode ser ignorado; afinal, há muita especulação sobre esse assunto.
Na opinião do autor deste artigo, as armas nucleares estiveram, estão e estarão na Frota do Mar Negro. No entanto, estamos a falar sobre armas nucleares táticas. Para entender o problema, é necessário distinguir entre a arma nuclear estratégica e a arma nuclear tática.
Arma nuclear estratégica, é a “tríade nuclear”: mísseis balísticos intercontinentais, mísseis balísticos submarinos e armas nucleares de aviação para a aviação estratégica. Não havia armas nucleares estratégicas na Crimeia. Mas se falamos sobre armas táticas, que podem conter uma ogiva nuclear, na Marinha russa havia um espectro largo desse tipo: desde mísseis de cruzeiro a torpedos e cargas de profundidade. Não há diferenças sérias entre armas convencionais e as que possuem ogivas nucleares. Quase todos os sistemas modernos de defesa aérea baseados em solo também podem transportar mísseis nucleares, que não são diferentes dos convencionais.
Havia armas nucleares táticas na Frota do Mar Negro. Foram armazenadas, mantidas e equipadas em unidades militares especiais – bases técnicas de reparação, chamadas de objectos “C”, em Balaklava (base 820) e no vale de Kara-Koba (perto da aldeia de Sakharnaya Golovka). Depois de 1994, a munição armazenada nestes locais foi removida e as unidades foram desactivadas e um arsenal nuclear começou a ser construído no Krasnodarskiy Kray (região de Krasnodar).
No entanto, uma coisa é equipar armas nucleares e outra é ter essas munições a bordo prontas para uso. De acordo com as instruções, o cruzador «Moskva» durante o serviço de combate deveria ter pelo menos oito mísseis de combate no lançador de mísseis principal, dois deles nucleares. No submarino «Alrosa» – seis torpedos, incluindo um com ogiva nuclear. A Ucrânia não teve oportunidade de verificar a presença de armas nucleares nos navios da Frota do Mar Negro estacionados na baía de Sevastopol. Mas tais questões podem ser “calculadas” por sinais indiretos.
6º departamento da 12ª Diretoria Principal do Ministério da Defesa. Departamento Especial da Frota do Mar Negro”. Sevastopol, Rua Lenin, 27. Fotografia do Wikimapia.
Em Sevastopol, à sombra da Praça dos Guerreiros Internacionalistas, há uma casa discreta de dois andares com o endereço: Rua Lenin, 27, que abriga o “Departamento Especial da Frota do Mar Negro”. O departamento especial, ou departamento 6º da 12ª Diretoria Principal do Ministério da Defesa, é uma unidade responsável pela operação das armas nucleares da frota, garantindo a segurança nuclear, a proteção física e a estabilidade antiterrorista das instalações nucleares. Outro sinal indireto é que entre os equipamentos do 872º regimento de helicópteros anti-submarinos (aeródromo de Kacha) existe um helicóptero único Ka-27E.
Este é um helicóptero especial de reconhecimento de radiação. É equipado com equipamentos de alta sensibilidade que permitem o reconhecimento de fugas de materiais radioactivos e munições nucleares a bordo de um navio a uma distância de até 3 km. Até 2014, o Ka-27E voou semanalmente sobre a área de água das baías de Sevastopol e continua a fazê-lo até hoje. É difícil tirar certas conclusões disso.
Ao avaliar o agrupamento militar na península ocupada, não se deve esquecer que a Crimeia não é um estado separado e a Frota do Mar Negro é apenas uma parte das suas forças armadas. O agrupamento de forças da Crimeia é apenas parte do exército da Federação Russa. E em caso de conflito armado, não lutará autonomamente, mas atuará de forma complexa, segundo um plano único e em cooperação com outras unidades e formações das Forças Armadas de FR.
Pavel Lakiichuk, Chefe de Programas de Segurança, Centro de Estudos Globais «Estratégia XXI»
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