Em 2008, a Rússia atacou a Geórgia e desencadeou a primeira guerra interestadual na Europa no século 21. Tudo começou na noite de 8 de agosto, quando as tropas russas cruzaram a fronteira com a Geórgia. Desde então, uma data sangrenta foi gravada na história a 08.08.08. Este dia pode ser considerado a primeira agressão militar aberta de uma série de subsequentes guerras de agressão provocadas pela Rússia de Putin no século 21, às quais a comunidade internacional não respondeu de maneira adequada e em tempo útil. Portanto, novas aventuras do Kremlin virão a ser realizadas no futuro: a captura da Crimeia ucraniana e a guerra no leste da Ucrânia.
Pré-condições
As pré-condições para a agressão da Rússia contra a Geórgia foram estabelecidas na década de 1990, quando as regiões separatistas da Abkházia e da Ossétia do Sul, apoiadas por Moscovo, declararam a “independência” da Geórgia. Após as guerras locais, a Rússia impôs os termos do acordo de armistício à Geórgia e colocou os seus “soldados da paz” na zona de conflito. Mas Moscovo não aderiu ao princípio da neutralidade, concedendo violações sistemáticas do cessar-fogo pelas “milícias” da Ossétia do Sul. Além disso, os passaportes russos foram distribuídos em massa aos residentes das regiões periféricas.
Na véspera da invasão da Geórgia, a Rússia realizou exercícios militares em larga escala “Cáucaso-2008”. Aumentando a intensidade das provocações, Moscovo estava á espera de uma boa desculpa para a agressão aberta. Uma tentativa do Exército Georgiano de impedir bombardeios continuados do lado da Ossétia do Sul e a ocupação crescente dos territórios adjacentes foi o motivo.
A 8 de Agosto de 2008, a Rússia anunciou “a proteção dos seus cidadãos” na Geórgia. Aviões militares russos atacaram posições georgianas. A pedido do Kremlin, o Exército russo bombardeou cidades, portos e instalações militares em toda a Geórgia. A Rússia lançou uma ofensiva a partir do território da Abkházia. Além das duas regiões separatistas já ocupadas, os russos ocuparam os territórios georgianos adjacentes e praticamente destruíram a marinha georgiana no Mar Negro.
Apesar de alguns sucessos óbvios dos georgianos (a derrota da coluna do 58º Exército de Armas Combinadas russo e a destruição do bombardeiro Tu-22M), as forças dos oponentes eram muito desiguais. Quando as tropas russas avançaram pelo interior do país e ameaçaram a capital, as autoridades da Geórgia declararam um cessar-fogo unilateral. A Geórgia lançou iniciativas de paz, mas o bombardeio russo continuou.
Centenas de vidas foram perdidas durante os cinco dias da guerra. Milhares ficaram sem abrigo. E quase 20% da Geórgia ainda está ocupada por tropas russas e forças controladas pelo Kremlin. O resultado político da guerra foi o reconhecimento de jure por Moscovo da “independência” da Abkházia e da Ossétia do Sul, a redução dos formatos anteriores de manutenção da paz e a posterior militarização dos territórios ocupados.
Mapa da Geórgia. As regiões ocupadas estão marcadas em vermelho / Fonte: Ministério das Negocios Estrangeiros da Geórgia.
“Ocupação rasteira” e sequestro
Mas a Federação Russa não parou por aí, e hoje a “ocupação crescente” continua: os guardas de fronteira russos mudam periodicamente as suas posições para o interior da Geórgia, expandindo o território das terras ocupadas. Além disso, os serviços especiais russos e os gangues controlados pela Rússia nas áreas vizinhas praticam o sequestro de cidadãos georgianos, que às vezes são devolvidos mediante resgate, sendo que, por vezes são brutalmente torturados e mortos.
A Rússia também usa os territórios ocupados da Geórgia como “plataformas” de agressão contra a Ucrânia.
Investigações OSINT da ocupação
Voluntários da comunidade internacional de informação OSINT InformNapalm recolheram muitos dados sobre militares das Forças Armadas russas que participaram na agressão contra a Geórgia ou que fazem parte das forças de ocupação. Em particular, dados sobre soldados e oficiais da 7ª base de ocupação militar russa (unidade 09332), implantada perto da cidade de Gudauta, e da 4ª base militar de ocupação da Federação Russa (unidade 66431), implantada em Tskhinvali e Java.
Militares dessas bases russas também participaram activamente na agressão contra a Ucrânia.
Infográficos OSINT InformNapalm
Lista de investigações sobre agressão contra a Geórgia
(Publicações da InformNapalm foram traduzidas em várias línguas do mundo) :
- List 672 – Identification data of Russians Involved in the Aggression against Georgia in August 2008
- Personal Data Disclosed 140 Officers and Sergeants 4th Military Base of Russia in Georgia
- 22 Russian servicemen who participated in the war against Georgia
- 21 of 35: Russian artillerymen of the 7th Military Base involved in shelling of Ukraine identified
- Los soldados de la séptima base militar rusa en Abjasia fueron premiados con las medallas por la participación en las batallas en Donbass
- Service record of contract soldier from the 7th military base: Crimea, Donbas, Abkhazia
- Journey of Russian Occupant: Gudauta – Rostov – Donbas – Khmeimim
- Russian Contract Soldier from the 7th Base Fights as ‘DPR’ Militant
- Tshinvalii “shots” in Luhansk
- Recipient of Medal of the Order “For Merit to the Fatherland” and other Donbas veterans from the 7th Military Base
- Russian scout from 7th Military Base given away by Bull Terrier from Horlivka
- Сontract soldier from Tskhinvali military base in Cheburashka illegal armed group
- Russia is building up its military presence in Georgia. New S-300 in occupied Abkhazia
- Russia builds up its occupation contingent in Abkhazia
Conclusões
A agressão armada impune da Rússia contra o estado soberano da Geórgia em 2008 e a lenta reação da comunidade mundial estabeleceram as bases para as novas “aventuras militares” do Kremlin na Europa, Oriente Médio e África. O apetite da Rússia está a crescer e mais estados tornam-se vítimas de uma guerra híbrida envolvendo tanto as forças regulares russas quanto grupos armados privados. Durante muitos anos, a Ucrânia permaneceu o alvo da agressão russa, que também poderá espalhar-se para a Belarus e os países bálticos. Somente uma reação consolidada da comunidade mundial, o fortalecimento das sanções económicas e o apoio à libertação dos territórios ocupados podem obrigar o agressor a abandonar novos planos de agressão. O preço da agressão deve tornar-se insuportável para a Rússia, e a liderança política e militar superior e os criminosos de guerra devem ser punidos de maneira justa. Porque o mal sem punição cresce.
Tradução: Helena Sofia da Costa. Distribuição e partilha com referência à fonte são bem-vindas! O InformNapalm não tem nenhum apoio financeiro do governo de nenhum país ou doador, os únicos patrocinadores do projeto são os seus voluntários e leitores. Também pode ajudar o InformNapalm com uma contribuição através da plataforma Patreon.
Siga o InformNapalm no Facebook / Twitter / Telegram e fique a par das novas publicações da comunidade.
No Responses to “Marca-se hoje a data do início da agressão e ocupação russa da Geórgia”